terça-feira, 3 de novembro de 2009

a bordo.

Tantos quartos quanto os quadros que lhes penduram; sem janelas de visão, só ranhuras por fenetras de cheiro de sal e barulho d'água. Não tenho enjôo de fato, só vomito por ritual de iniciação de mim mesmo na vida marítima, na pia da cabina; a gaveta do criado-mudo abre, fecha, abre fecha... é no balanço do mar.

Saindo no covés. Vê-se logo a silhueta de uma moça lá por cima dos containers, uma moça que a cada passo, de sólida se desmancha no ar pra ser toda feita de novo toda vez que a lua sai de trás da nuvem larga e deixar brilhar de si tudo que se brilha numa moça; a moça sobe pela escada de corda, corre até a popa e se deixa estraçalhar na hélice. Ela não olha pra trás, ela não deixa de olhar pra algum lado, ela olha pra esquerda e repara uma mancha no pinho do chão do MSC Leigh.

Ainda viva, com o intestino numa mão e a outra perdida, tem sorte de não haver tubarões nessa bacia de Santos. A não ser que os hão. E hão.

Nenhum comentário: