terça-feira, 1 de dezembro de 2009

poesia do eu esqueço

eu esqueço de comprar embrulhos, eu esqueço de comprar papéis
eu esqueço até da poesia que tava aqui, eu esqueço que amanhã nao é dia de se rir, eu esqueço que a linha já acaba, eu esqueço que um dia nos separa, eu esqueço.

eu esqueço que não sou Saramago, eu esqueço que arte é nada, eu esqueço minhas lições de casa, eu esqueço que nem tenho mais lições de casa, eu esqueço que não há dias, nada acaba.

Eu esqueço de comprar embrulhos, esqueço que já disse isso, esqueço tudo isso, não esquecerei mais nada. Eu esqueço a definição de Cobb-Douglas, eu esqueço como se fala hours concours, eu esqueço de por francês em itálico, eu esqueço que eu esqueço, eu não esqueço nada.

eu esqueço que o muro caiu
eu esqueço que o dia some
eu esqueço quem tem fome, pra acordar mais cedo, pra ver o dia que nunca acaba, vira noite mas não acaba, vira dia mas não acaba, vira ano mas não acaba, acabou. eu esqueço o dia por causa do som.

eu esqueço como toca Brahms, eu esqueço como toca disco eu esqueço que um dia eu fui um disco, mas eu nunca fui um disco, esqueça. eu esqueço como se escreve monografia, isso eu esqueço todo dia, eu só não esqueço o fluxo de consciência, mas eu até esqueço se não me apetece, eu esqueço o que te entristece e te ligo todo feliz e contente pra ir ver o jardim, mas você nem liga mais, como disseste mesmo antes de ontem pra mim quando eu falei do negócio do trabalho da pasta azul. os outros esquecem que eu não nasci no Sul.

Eu só não esqueço mesmo como fala a língua portuguesa.

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