sábado, 11 de julho de 2009

sobre a língua portuguesa

é esta a língua dos poetas, a última flor do lácio, a mais bela e mais selvagem;
e quando o malandro de fala suave te proclama, diz Noel, és brasileira que dá samba.
Você é morada dos poetas pois estes moram na madrugada que é só tua, que serve como uma habitação tão escura que o teto não se enxerga, e cujas camas são pontes e postes de concreto largados e traçados pelas cidades do país. Dás aos que dormem pontes e postes, e aos que comem, dás saudade como pão, salada; obriga-os, porém, ao vegetarianismo, pois se abusam das carnes quentes logo morrem ou se perdem.

I - da Madrugada;

Não é mais escura como o breu: a poluição te deixa cheia das nuvens rosadas, e há tempos não há estrela que pouse a luz sobre este cais que agora corre da escuridão e de Martins Fontes com suas lâmpadas fluorescentes, com seus velhos aposentados e socialites de nome sujo na praça, protestado em cartório; me rio dos bingos e cinemas fechados, dados às baratas e aos mendigos que tanto nos orgulhamos de não existirem -só prova que o IBGE é tão cego quanto nós.

II - da Saudade;

Desta eu já não sei, não a sinto, apático que sou como deveria ser. só sei que dela chegou-se de terno gravata e piano, de sola do pé pisando no chão molhado pelo pranto de alguém que sonhou um dia em poder fugir da monotonia. Santos em prosa é uma música parada, de voz sussurrada, como se João Gilberto fosse querer alguma coisa com esse pedaço de ilha; mas aqui dá eco.

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