sábado, 15 de agosto de 2009

Herói brasileiro, meu cu num é imã (poema-côco para voz)

corre atrás da água do rio
corre atrás da água do mar
se um dia eu voltar seco
é porque o sertão virou mar

o sertão já virou mar
o sertão vai virar mar
o sertão diz que não
e repete a sua sina
há mais de dois centos de anos
a vida e morte severina

um pau de arara pra sumpaulo
um ônibus velho sem viação
nas minas gerais me aporto
pelo norte do sertão

belo horizonte, lá vou
de saco preto bigode preto, baldeação
à bordo do ônibus de sumpaulo
paraíba chapéu na mão

vou voltar pra joão pessoa
pelo rio braço de mar
vou voltar pras cajazeiras
onde dão castanhas, no rio do peixe do são joão

vou é buscar maria e irene
vou buscar explicação
quando chegar em sumpaulo
de como faz pra tirar o sertão
pelo trabalho que eu valho
da fome d'água sem farinha é pão

Trabalhar na volkswagen
Trabalhar na sé, s. joão
me espera a cova rasa e eu pedindo de copo na mão

calango na parede
do prédio alto com bandeira
eu te digo irene não vale a pena

eu vou membora pro sumpaulo
pato preto cai no chão
vou membora de asa branca, saco preto, saco de pão.

e aqui de saco preto, bigode preto e indagação
morri-me num canteiro, ainda tinha chapéu na mão;
minha lápide é toda clara
acima as honras do país
que havia de mim esquecido
até que o cheiro deu chamariz.


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