segunda-feira, 17 de novembro de 2008

pequena

- pororoó, pororoó roropó - assoprou Charlie Parker
- tururu tá tá tá tum tum tum tum booujzé! - respondeu um baterista, meio distraído.

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Ele disse que não queria ir, mas acabou que não agüentava a vontade de ter perdido o que queria ter. Assim sendo, assim foi. E era azul seu caderninho preto, e nele tinha escrito:

Não há flor que se cheire
Não há amigo que se cale
Não haverá quem te chama
Dizer-te por que.

Assim sendo, assim foi. Fechara o caderno e agora corria pelo sonho amarelo de luz, amarelo de girassóis, ou mesmo amarelo como pães franceses não muito assados, mas também não tão crus, assim como aqueles da padaria ali da esquina, com um pouco de gergelim em cima e massa bem batida. E cantava:

Não há nenhuma que te ofenda
Não há nenhum que não o faça
Talvez até te falem depois
Mas já não terá mais sentido.

Assim sendo, acabou não indo tão longe quanto pensava que iria. Sentara entre as incheiráveis e procurava o Mundo em seu bolso direito. Era o único que havia em suas calças, que por sua vez era a única de seu guarda roupas, que, no entanto, era o único na região. Importado de terras distantes como o velho Cataio. Lugar lindo, onde o sol se põe quando tem vontade. Se não tiver vontade lá, talvez tenha no Ceilão... De qualquer maneira, era seu único bolso e o Mundo não estava mais lá. O que seria dos outros sem o Mundo? Sabia que o Mundo era importante, então abrira seu caderno azul, que por entre as pétalas e ramos, por alguma razão, parecia mais azul do que realmente era. Escrevia sobre o Mundo, numa organizada bagunça, numa dança de invertebrados no escuro de um salão numa madrugada de Terça-feira. Escrevera:

Não há bolso em que ele caiba
Na feiúra tem sua beleza
Nas palafitas e pobreza,
Manifesta-se vivo e cortês

E escrevendo, viu que o que era cru e simples, na verdade era complexo e estranho, cheio de mistérios, ministérios, menestréis, méritos e ministérios de misteriosos menestréis. Cada qual com seus méritos. E escreveu mais. E mais. Escreveu sobre o gado, sobre a convivência, sobre histórias dos avós, sobre Romeu e Julieta, sobre Bento e Capitolina, sobre Frederic e George, sobre Jane e Eddie, Dirceu e Marília, e muitos outros, escreverão ainda de muitos que virão, mas, só o que faltava era eu escrever sobre ti. Porém acho que nunca conseguirei descrever teus olhos meio orientais, porém ocidentais, teus cachos de anjo, que envolvem o olhar de pecadora divina e tua boca que firmemente me cumprimenta. O que direi da pele branca como o som de violões e flautas, e sobre os sorrisos esboçados em horas mais que perfeitas?
Direi que não há o que dizer. Queria dizer-te, mas falar isso hoje em dia parece mais uma música mal versada, tão comum.

Assim sendo, assim será. Só se você quiser, é claro.

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7/3/2008, de madrugada.

Um comentário:

Fehh † disse...

vcs são poéticos demais pro meu pequeno cérebro .___.

;*