domingo, 27 de dezembro de 2009

ponte em uruguaiana

eu vim andando desde laguna
e parei nesta ponte em uruguaiana
a sede já me mata nesta cidade de eterna paz.

daqui eu vejo os santos borja e pedro do rio grande, e vejo as corrientes, vejo as plantações, o paso de los libres.

aqui nesta fronteira é onde o tempo e o vento mudam, onde eu visto minha capa que é pra me esconder do minuano, ainda ontem era um veranico, daqui a pouco chove... tomo um trago e sento aqui; lá vem o trem... lá vem o cusco correndo gélido; olha lá o trem... américa latina logística...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

cada tudo

todo minuto é hora pra alguma coisa
toda hora é dia de algum mundo;
cada segundo, um quando escrito,
cada ano, uma década que dura um segundo

ou um terceiro.

cada tudo é um pouco de nada, cada estrada é um pouco de tudo, cada um cada dois cada um nenhum cada um a mais, um a menos, um segundo, um terceiro e um quinto. cada um coça o pinto
como bem lhe serve.

todo mundo é um minuto, toda hora é uma população, todo dia um país
e nação seria uma rima óbvia demais.
cada um, nenhum.

música

há um poema do Ezra Pound que eu não lembro
mas ele não diz nada, ressoa mais aqui em minha morada
o que quer que tenha dito Pessoa.

Há aqui na minha casa uma garrafa bem redonda, vazia, com ar, e eu a tomo por flauta de vez em quando...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

finanças

Há ali uma carta semi-aberta, semi-colcheia.

Leio-a? Semi-crime, afiançável e desesperadamente subornável (quase um berro, aceitam até Visa Electron)

A carta diz:

"Ilmo. Sr. Lucas Rodrigues





Vimos por meio desta informar-lhe que sua conta corrente neste banco está apta para suspenção por inatividade. Compareça a uma de nossas agências e converse com o seu gerente.

Equipe Santander"

...e tem gente que ainda escreve cartas? Que fará Lucas agora?

nem sabia que eu tinha conta em banco algum.

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Era tarde e era cedo, junto, e a moça da casa da frente resolveu, sei lá, dar uma volta na Ana Costa; atravessou pela galeria, olhou de lado e olhou apertado pra uma lojinha indecente, a qual ela morria de vontade de adentrar, mas ah, fez que não, seguiu reto, viu a livraria, fez que não, seguiu em frente. instalava-se ali um tumulto; ai quanta gente em torno de tão pouca moça, não aguentara a disparidade da nossa taxa de juros, não tinha mais contas a fazer em sua vida, não ligava mais para o cargo alto, investira no fundo errado, jogou-se do topo do prédio do banco do brasil. nossa heroína do gonzaga continuou andando e pensava em se arrepender de ter colocado saltos.

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Era cedo (e só), nossa heroína acordou na ponta da praia semi-nua e sem razão.

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Era tarde e nossa heroína dormia em sua casa.

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era quase outro dia e ninguém tinha mais história, era quase outra lua e ninguém tinha mais um fósforo pra alumiar a lua nova, aluar a luminosa, luna, lucas, diz lá se és feliz: eu sou feliz à prazo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

ser

Eu sou um bravo bandeirante português
subo a serra desço a serra corro na serra nado na serra serro a serra serra a serra serra serra.

eu sou um bravo bandeirante paulista
e eu tenho uma estátua em santo amaro.

eu sou um bravo paulista
e pego trânsito indo pro trabalho
eu sou mais pra um paulista bravo
fico no carro, suando, ouvindo a miriam leitão falar bobagem
no trânsito. amarrotando o terno.

eu sou um bravo bandeirante paulista, eu fundei cuiabá.
subi pelo coxipó. eu fundei cuiabá.
eu vim lá das bandas de sorocaba pra isso.
eu e mais trinta índios, 20 mulatos e uma penca de negros.
fundar cuiabá...

eu sou caiçara.

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no princípio nhandervuçú criou a alma, e a dessa a mais antiga, a chamavam anhangüera. todo mundo sabe de tupã, mas foi nhandervuçú que o criou. é que nhandervuçú é muito difícil de falar. nhandervuçú.

anhangüera foi à goyaz...

o sambaqui de guaibê

olha o monte, tupinambá, olha a concha que faz guizo
olha o riso
olha o céu, olha o mar, do guarujá, olha lá...

olha só que homem novo.

olha o caiçara, a armadilha do mato.
olha o sapo, olha o mato.

olha a terra, olha o mangue, olha o sangue escorrendo dos tupis de riba-serra
olha a serra, escarpa do mar

olha o nosso filho jogado no chão, olha o urubu sobrevoando, olha o manto
de folhas secas de ipês, de restos foscos de bromélias
olha o céu, olha o mar, olha o barco grande

o mar de morros que eu nado a pé...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

a morena como a ninfa tropical

é bem verdade que as ninfas do camões são tropicais, mas vá lá, veja bem; camões não era vinícus nem tom, camões lá sabia o que era saudade (sabia), já lá teve uma morena, conheceu esse pecado, já provou desse dilema? damas da corte não contam, eu quero damas do jardim da praia, eu quero moças morenas, beijadas de sol, abraçadas pelo mar, que caminham mudas com olhar pra mim sentado ali no banco, um olhar de soslaio, me quebrando todo por não ir lá acompanhá-la, eu não posso, ela é toda do sol, que vai engolindo essa moça ao longo da orla, na direção do guarujá... e leva ela com ele, em sua carruagem de apolo, e quem sou eu pra contrariá-lo, senão um mero observador de coisas, um escriturário, mas assim, e assim ela conhece o mundo, assim ela sabe das lendas do boto e das lendas do cataio, ela sabe mas não diz, por que moça não me diz o que passa, só sorri? por que moça, não me dá um oi quando passa, abaixa o olhar, meio sem graça, só pra quando voltar brilhar mais, ofuscar as vistas, me tirar as pistas, me tirar do sério...? é saudade de um tempo que ainda nem veio.

domingo, 13 de dezembro de 2009

a problemática do choro e do tango

eu miro fixamente o lustre de uma só lâmpada
até ver o reflexo da minha própria face no globo fosco

e eu que era discreto, agora grito de alívio
e eu, dantes aberto, outrora fingido, por dias absorto serei
até que soe o tango e o choro no pianos dos salões de santos outra vez.

mas e as moças?
será que elas dançam o tango que sangra?
será que elas pas de deux ao invés de milonga? já não sei.

sábado, 12 de dezembro de 2009

bete boquete

Tatuou a encrenca no meio da testa, pegou o fuca e foi
pra festa, não era madrugada e ela já tava pelada,
fazendo uma preza pra rapaziada, onde ela vai ela
arrasta comitiva, Bete Boquete, Bete Boquete, Bete
o nome fala por si mesmo. A rainha.

a agonia do cego que estende a mão ao vento e o instante no qual lhe é tomada.

un casí silencio, una nota borrada de su mano
que ya se fue, se fue temprana,
no quedaría alí por mucho más todavía.
nota.

casí una nota, sino un silencio envuelto en harmonía
tendiendo a la oposición máxima de fuerzas
como se pudiera besar tu espalda con espalda
como si tu morenice era de seda, izquierda, la mía, yo olvido, me olvido de morena, ólvida, me olvido de mi portugués, solo queda la lengua de morena...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vélinho

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

lampião em capela

adentra a cidade acompanhado do sr. prefeito, corrupto.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Vislumbre de Naiad

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ulisses, fundador de Lisboa

Ulisses, rei de Ítaca, esculpiu na foz do Tejo uma diadema lusitana
esculpiu com a unha, em pedras do parque Monsanto,
o chiado, a baixa, a alta e belém... da ameixeira à sta. maria, à santos-velho e s. paulo
benfica até marvila...

Ulisses, rei de Ítaca, fez Lisboa para olhar pro mundo
ainda que se lembrasse sempre do velho continente
por ser constantemente afluída pelo Tejo no seu coração.

Já eu, moro em santos-o-novo, tocada pelo tejo na corrente fria do Brasil.

a nova primavera do foakeanismo

no meio de tanto kitsch, blog kitsch, e bordados, eis que surge uma flor.





quiche de pêra e roquefort.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

fish & bird

[...]
Assim o marinheiro deixou a princesa em terra firme e partiu, estibordo, ao norte.
Numa tempestade o pequeno barco fora chacoalhado à sombras espumantes ondulares, prateadas de luar.
Deitado na solidão de escombros em alto-mar, curvou-se.
Seu relógio, parado. As luzes, apagadas.
Olhou para o céu e na silhueta farta da lua que enchia seus olhos, um passáro lhe observara.
Do alto da torre, a princesa, fadada à maldição do fino eterno, enchia as lágrimas com o mesmo luar.
O marinheiro mirou o olhos do pássaro.. Você não me olha deste modo há anos, mas eu ainda estou aqui.
O mar então virou um espelho, onde o peixe deitava-se na lua e o pássaro na maré.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

fernanda (matita perê)

a moça de avental verde, atrás da bancada, na caixa
a moça de uniforme largo, sorriso largo, e o passo jeitoso
a moça sorri pensando num outro moço
e a moça serve café, feliz.

a moça acorda 4h40 da manhã pra atravessar a ponte do piqueri num ônibus circular branco e verde
a moça vai no caminho ouvindo música num celular comprado a prazo, à perder de vista. a moça mal pisca quando bate uma brisa.

morena baixa andando na espreita de uma noite sem nuvens
e sempre um caco de vidro na beira da calçada de um beco: tropeça pra cair no meio-fio

A moça morena, doravante denominada Fernanda M., 25, declara "tropecei num facho escuro, ao meu alcance um pedaço de garrafa". Vidro marrom ou branco? "verde, de stella artois" anota escrivão;
Juliana caíra por uma bota, uniforme verde rasgou-se. E então, naquela ingrata posição, apoiou a cabeça no chão e uivando, pediu mais. Marta ralara os joelhos. Gabriela não tinha medo. Marisa alcançou o estilhaço e fez um estrago na garganta do infeliz. Luísa achou por bem selar seu abuso com um beijo, Lúcia era fatal e não sabia, Judith nem usava calcinha.

Então o meliante caiu sobre o teu corpo semi-nu e apertou tanto a tua cintura que lhe marcou pra sempre a pele morena de vergões ainda mais escuros? Raquel alcançou o estilhaço e fez um estrago na garganta do oficial de plantão, só pra ver o medo no rosto do escrivão.

acontece que o escrivão também era meio avoado.

---

(also spracht zarathustra...mendelssohn ou lohengrin...)

Amanda e escriba, a igreja toma parte na vossa alegria, crescei e multiplicai-vos, por isso o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e serão os dois uma só carne, viestes à casa da igreja para que o vosso propósito de contrair matrimônio seja firmado, interrogar-vos-ei sobre as vossas disposições, diga que sim, hesite e também concorde, não faça vexame, logo tiro o estilhaço da bolsa, que bolsa? coloquei-o na cinta-liga, ótimo, que exploda agora, e ao som dos tímpanos que seriam um nascer de sol, se profanou a hóstia, e a igreja vibrava tanto com os acordes de Strauss, Richard, Einleitung, que ruiu. Maria, que estava de costas para a cruz, caiu em posição pouco afetada pela última vez. Paula nunca se curvaria. e então, nada aconteceu.

poesia do eu esqueço

eu esqueço de comprar embrulhos, eu esqueço de comprar papéis
eu esqueço até da poesia que tava aqui, eu esqueço que amanhã nao é dia de se rir, eu esqueço que a linha já acaba, eu esqueço que um dia nos separa, eu esqueço.

eu esqueço que não sou Saramago, eu esqueço que arte é nada, eu esqueço minhas lições de casa, eu esqueço que nem tenho mais lições de casa, eu esqueço que não há dias, nada acaba.

Eu esqueço de comprar embrulhos, esqueço que já disse isso, esqueço tudo isso, não esquecerei mais nada. Eu esqueço a definição de Cobb-Douglas, eu esqueço como se fala hours concours, eu esqueço de por francês em itálico, eu esqueço que eu esqueço, eu não esqueço nada.

eu esqueço que o muro caiu
eu esqueço que o dia some
eu esqueço quem tem fome, pra acordar mais cedo, pra ver o dia que nunca acaba, vira noite mas não acaba, vira dia mas não acaba, vira ano mas não acaba, acabou. eu esqueço o dia por causa do som.

eu esqueço como toca Brahms, eu esqueço como toca disco eu esqueço que um dia eu fui um disco, mas eu nunca fui um disco, esqueça. eu esqueço como se escreve monografia, isso eu esqueço todo dia, eu só não esqueço o fluxo de consciência, mas eu até esqueço se não me apetece, eu esqueço o que te entristece e te ligo todo feliz e contente pra ir ver o jardim, mas você nem liga mais, como disseste mesmo antes de ontem pra mim quando eu falei do negócio do trabalho da pasta azul. os outros esquecem que eu não nasci no Sul.

Eu só não esqueço mesmo como fala a língua portuguesa.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Jeans na rua

Um dia..

Um dia larguei minha casa com jardim lá na mooca.
Um dia larguei meu emprego de professor de português.
Toquei guitarra até o sol nascer.
Malhei. Cherei coca.
Agora eu sou feliz. Sem dinheiro, sem nariz.

Um dia larguei minha namorada maravilhosa,
Um dia larguei de ser certinho.
Dancei little richard até o sol se por.
Bebi cerveja. Comida oleosa.
Agora eu sou feliz. Sem caráter, só ris.

domingo, 29 de novembro de 2009

(huxley) carta aberta da imprensa

Boas tardes, bons amigos, ouvintes, telespectadores, compradores e outros tipos de inertes: a imprensa vem por meio da presente carta aberta aos globais anunciar o fim da dor.

Vencida a guerra, curadas as feridas, e, graças ao governo que eu sou obrigado a elogiar para não perder minha licença de transmissão, garantida a nossa liberdade de compra e venda, oferecemos à vocês, em cinco canais (notícias, esporte, dramaturgia, blockbusters e hits do momento), três estações de rádio, um jornal impresso de grande circulação, além de um grande portal na internet munido de correspondências com o NYT, El País, El Clarín, The Daily Telegraph e outros bastiões da livre-expressão. É essa nossa contribuição para que você, cidadão de bem, se mantenha sempre conectado ao mundo, se globalize, vá além de sua sala de estar, esteja sempre bem informado, podendo participar das decisões do dia a dia; afinal não é valiosa a informação? Quanto vale pra ti? A informação é propriedade privada nossa, mas por somente R$149,90 mensais nos primeiros 3 (três) meses; promoção válida até 31/01/2010 você pode se afogar em notícia, criar barriga lendo nossa seção Saúde & Bem-Estar e infartar aí mesmo, na sua cadeira de rodinhas, no conforto do seu lar.

A: Srs. Civita, Frias e Marinho

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

(orwell) Carta dos Povos

CAROS CONCIDADÃOS, por virmos nós sendo ameaçados, é nesta data declarada guerra aos sabidos inimigos desta pátria. Nossa bandeira não pode mais ser hasteada a meio pau por homens que conhecem a liberdade e dela fogem. Ontem, uma data cujo som retumbante badalará tal qual um enorme pendulho nos sinos pesados da História, fomos deliberadamente atacados. Cinco civís foram mortos numa lastimável ação sorrateira, como é de costume ser feita por povos tão baixos. Nunca mais, cidadãos, nunca mais! Que se faça de seus nomes nosso lema! Da calota polar ao sol cinza de Calais nós lutaremos pela garantia de um mundo livre, onde possa o capital acumular e o trabalhador, trabalhar; onde floresça da terra a mais bela flor, uma rosa vermelha, e possamos erguê-la unidos, extrair dela o perfume, diluir, adicionar corante ponceau 4R INS124 ou outra laca rubra e vender às colônias em frascos bonitos de vidro feito no Espírito Santo do Brasil. Que bebam.

Acredito sinceramente que é a vontade dos homens do Congresso Nacional e do povo manchar o que resta de alvo no nosso estandarte com sangue (ou outra laca encarnada). Levando isso em consideração, declaro doravante fechada a Casa de Representações e reabertas as antigas Comissão Moralizadora da Imprensa e Polícia da Ordem Social. É para o bem do trabalho que protocolo tais atos, pelo poder investido a mim, durante o período beligerante, como chefe-em-comando e Generalíssimo das Forças Armadas, pela anulação da Constituição Nacional. Ratifico em anexo (Ato Beligerante nº1).

Dos Urais à foz do Tejo, reinaremos soberanos! Do Cabo da Boa Esperança à Juneau! Nossas gloriosas fábricas levarão o progresso e a felicidade a todos os povos, dos filipinos aos xavantes, dos suomi aos suáli. Povos do Oriente, tremei diante de nossa Marinha.

Este país é soberano, e que venham mais mil anos de vitória.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fila para o abate

Uuuuuh

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Didot, o pensador

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

a triste morte de um artista

perdido nos contos de fins de dia, ao invés de brochuras sobre o fim dos dias, é fácil tropeçar no caminho escuro dessas calçadas tão esburacadas.

é fácil a vida do pintor cego. morreu feliz. não choramingava sobre as cores erradas; não tratava de flores, estradas, geometria, nem nada.

No seu funeral, não havia coroas. Nem de flores, nem velhas de fato, nem mesmo honras de estado, ou da academia, podia muito bem nem ter vivido, mas ah, foi feliz... que coisa grande foi essa, um artista satisfeito.

é fato que há ainda a redenção

terça-feira, 17 de novembro de 2009

loirinha nº 4 (marília por dirceu)

essa loirinha tem gosto de amarena, cabelo cor de marula
e uns olhinhos cor d'água do mar que, ah, é uma pena
que passeie assim por aí sem ver o mar, lá de jundiaí, sem nem saber onde vai bater, onde vai parar
sem nem deixar que eu segure a sua mão...

essa moça não usa batom, mas suco das mais bonitas frutas do Pará;
aqueles olhinhos, na sombra, vão de repente à um inesperadíssimo azul-mirtilo.
essa moça dá banda por aí, nem vê que é tão preciosa...
e quando a chamam de pé de ouvido 'bonita',
deve ficar toda corada, fica toda querosa.

domingo, 15 de novembro de 2009

Cláudio, o calopsita

Era uma vez











Cláudio


























o calopsita












































Cláudio, o calopsita























era amigo







































de Marílson















































a maritaca






















































Certo dia















































Cláudio, o calopsita









































e























































Marílson, a maritaca




















































foram no show

























































do Rod Stewart


























































































o curió






























































































no show











































































do Rod Stewart, o curió























































Cláudio, o calopsita































































e























































































Marílson, a maritaca






















































































































































viveram felizes para sempre

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Noturno da moça que me maltratava

todos os nomes estão neste só;
todas as dores, nesta moça que é tão só.
todas as cores dos cabelos, neste nome tão pequeno, tão só
todas as cores do seu estojo da staedtler...

canta e dança como se viesse do infinito
a um ponto qualquer
se é que há qualquer ponto
se é que quer...

eu acho mesmo que você nem existe...

A gente entende

apesar dos idiomas, das vestes e emblemas
distintivos medalhas de honra
é bom que você entenda:

apesar das moças, dos carros, das empresas e bens de capital
e das boas relações no senado federal
é consumado o que quer que seja;
é bom que se entenda:

apesar dos ensinamentos e confissões
dos roubos de malandros às caixinhas de tostões
a gente se entende, dado que:

-é bom ser tão cordial depois de um dia de trabalho.

Em: como ser breve

Ela espia pelo canto do olho, por cima do ombro e.."porque tu é assim?"
...Por um bocado de coisas que não tão na ponta da minha língua.
Eu poderia tentar alguma resposta de efeito,
mas só me viria algo bom na cabeça uns dois minutos depois.
Digo nada.

Ai tu vai embora e leva contigo, as tuas pernas lindas, meu estado de espírito..

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sem titulo

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Irène de Cahen d'Anvers

Seda e Veludo

É a Seda, é o Veludo.
Sinto como ontem;
Sinestésico: cheira a macio;
Macio de pele, do perfume.
É a queimadura, de pele e de alma;
queimou, aqueceu
e deixou escarlate o olhar;
Enrubresceu o toque.
Tocava, sentia e pensava em tom de vermelho...
Aliás, sinto, e como ontém!
Vislumbro imagens e rebusco.
De fato, quero lembrar!
Procuro, mais e mais,
pelo som, pelo tom,
nota de mulher,
musical como a íris,
do arco e da costela.
Quero sentir o céu,
daqueles bem carmim.
O cheiro do poente,
cheiro do que era e é,
Veludo e Seda,
harmoniosos, dentro do abraço.
Couro, pele
macios, femininos.
Cabeça recostada num cantinho,
no sofá comido, torto.
É direito e gauche, ao mesmo tempo.
Como o duo que me tocou lá.
Era calor do Sol que queimava,
queimou a alma, marcou;
Atritou mas não doeu.
Não doía, dói é agora, de saudade,
da Seda e do meu Veludo.
Queimou sim,
aqui e ali.

Te ligo na madrugada...um regurgitamento foakeanista.

Quão frustrado é o azul dos blues noturnos.
Ninguém o ouve, ninguém o nota, um dia de calor passou,
a noite sem frio, na chuvinha, um cálice de velho jack.
Constato um milhão de coisas aos fios de prata que me penumbra.
Meu bafo atravessa a cidade vazia, que dorme, fode, dorme.
As taras que saem das sombras, a noite que inspira coragem.
Chega uma voz ao meu ouvido, meu imaginário barman sussurra algo,
enche meu copo, abre a porta e deixa ela sair, com lágrimas nos olhos.
Odeio ver mulher chorar.
Elas curtem o estilo largado, sabem que somos largados, de bar em bar..
e quando percebem a roubada, pulam do barco..
E a literatura, a música, a poesia, o rock..
só fez de mim um vagabundo catedrático.
Meus heróis morreram de overdose o caralho nenhum,
meus heróis são tudo que não quero ser.
A santa tríade - vinho de garrafão, rock’n roll e foda -
está aqui para o bem coletivo das mentes que não unem beleza ao dadaísmo,
Não dizem 'genial, genial' ao que não é.
Não escrevo para pegar menininhas.
Não sei estudar, não sei cantar as garotas, não sei jogar bola...
Sento e escrevo para manter a insanidade necessária,
pois sinto a falta que ela faz.

olha

olha lá o trem que vai passando... américa latina logística.
olha só a chuva que o céu nos arma... e olha,
lá em cima do morro uma árvore toda desfolhada de vento, no meio da primavera...
olha o sol que entra na janela...
agora me olha, e diz de novo o que disse.

olha lá, a serra da cantareira
olha lá, a favela que ninguém sabe o nome
ninguém sobe o morro
ninguém sabe a fome
que dá pra passar
fazendo piquenique de bar em bar.

olha lá... é só o mar... o bairro de lata.

olha lá, o mangue e a palafita, o aterro mal-feito, uma despedida...
olha... imagina uma diadema bonita, uma tiara de flores, na palafita...
olha lá, imagina.

Eu só olho a garça recostada no vento catando manjuba do canal.
Eu só olho de graça se for um recanto, um empório, uma vitrina viva de moças pálidas
só o que for bonito. só o mar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

a bordo.

Tantos quartos quanto os quadros que lhes penduram; sem janelas de visão, só ranhuras por fenetras de cheiro de sal e barulho d'água. Não tenho enjôo de fato, só vomito por ritual de iniciação de mim mesmo na vida marítima, na pia da cabina; a gaveta do criado-mudo abre, fecha, abre fecha... é no balanço do mar.

Saindo no covés. Vê-se logo a silhueta de uma moça lá por cima dos containers, uma moça que a cada passo, de sólida se desmancha no ar pra ser toda feita de novo toda vez que a lua sai de trás da nuvem larga e deixar brilhar de si tudo que se brilha numa moça; a moça sobe pela escada de corda, corre até a popa e se deixa estraçalhar na hélice. Ela não olha pra trás, ela não deixa de olhar pra algum lado, ela olha pra esquerda e repara uma mancha no pinho do chão do MSC Leigh.

Ainda viva, com o intestino numa mão e a outra perdida, tem sorte de não haver tubarões nessa bacia de Santos. A não ser que os hão. E hão.

domingo, 1 de novembro de 2009

hard boiled

Desculpe-me pelos meus modos, onde estava minha cabeça?
não seremos nada aquém de prolíficos enganadores,
multiplicando nossos discursos laxantes e subentendidos sem penitência.
não superaremos nossas metas...
pensando bem, vamos sequer traça-las.
É assim que me candidato ao cargo de presidente de todos conseqüentes da profanação.
Desbancarei meus clones malfeitos, me tornarei um verdadeiro senhor do êxito.
E, para todos os contidos da platéia, botarei à fuder tudo e todos.
começando aqui.

muito obrigado.

[e assim, Ovaldo tornou-se o prefeito mais casca-dura da cidade de cascavel]

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aprendizes de burguês

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ensaio sobre a reticência

Pode chorar sobre o que quiser que o mundo não vai parar de cair, se é que cai
Sobre potes e vasos janelas e panos já molhados.
Sobre os espaços vazios de uma trincheira, não adianta chorar que a terra absorve, chupa a água como faz a moringa recém-estreada, a trincheira se alimenta do teu sal e da água que deixas que caia, só vai lhe dar mais sede, e então começa a embolar palavras, e mal-conjuga os verbos como eu, eles não concordam mais...

...e tem gente que ainda escreve cartas...

Ensaio sobre a reticência

...as reticências exprimem certa conformação de quem diz, deixa que passe, deixa passar...
...trazem em si paz melancólica de quem é paciente tal qual um chinês.

Ao contrário de si mesma, a reticência representa o velho que eu pareço andando por aí com este guarda-chuva por bengala, sob um céu que chove-não-molha... apesar de deixarem ao infinito, como o jovem pensa que vai, logo morrerão?

Não, pois só se morre jovem; quando velho, morrer é a vida. Velhos tendem ao infinito.

Somos peidos.

A gente se ilude que é Rock and Roll mas, no fundo, estamos jogando dominó na pracinha. Nascemos assim, surfistas do vácuo, sem charme nem brilho, espremidos.
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Taparemos o sol do sofrimento com a peneira da felicidade?
-Impossível, porra.
Mas a ilusão às vezes faz bem...
-Não é possível, porra.
Então devemos crer que viver é sofrer?
-Não é possível, porra.
Mas se nada disso é viável, a morte então é a única saída.
-Não é possivel, porra.
Tô confuso pra caralho, mestre.
-Agora, tudo é possível!
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Sem um épico e com uma revolução a fazer por minuto, perdemos as estribeiras e a estética, e junto foi o senso do ridículo pro beleléu. Somos bibelôs daquele velho museu de novidades que o Cazuza vislumbrou quando levava uma piroca no rabo. Espremidos em lugar nenhum.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

me apresento aqui, pra todo mundo ver

Com nossa honestidade vagabunda. Com nossa santidade amaldiçoada. Com o nosso firme e desprezível propósito de não chegar a lugar nenhum. Nós que não acreditamos em nada, com nossos despertadores quebrados, nós que não queremos ser notícia, nós que não merecemos crédito e não entramos na corrida dos ratos. Nós que alimentamos nossas panças precoces e proeminentes. Vamos queimar em algum sol de alguma praia vagabunda. Nós e nossas ereções secretas e silenciosas. Estamos a procura de uma nova identidade.

O merda no banco é o Tom Hanks porra.

O mininu que viu um cu

o poeta está morto.

Leve de mim meu mundo de contos,
de egoísmo acomodado,
minha presença inconstante,
meu rosto amarrado e meu grandioso fardo de esforços guardados,
meu amor definido, complicado.
Dê-me angústias e poemas irrisórios [como tal]
Na brisa uma canção fala em você, mas
Tolos hão de merecer nada menos,
perceber que nada há de ser melhor do que ao seu lado.
e rir meu riso e derramar meu pranto.
Leve de mim, amor.
Leve de mim, amiga.

e não resistir a todo encanto
que existe, assiste, [..]

Leve de mim meus dias,
leve as gotas do rapaz.
leve, de mim, nem alma.
e não volte mais.

[para não ouvir meus ais]

domingo, 25 de outubro de 2009

d. inês de castro (episódio lírico da obra)

leve inês longe à castela, donde hai tantos pinhos e serras que pedro não ousaria cortar-se por tão medíocre moça. mas pedro brada, estai louco por tua fidalguia, tens nas orelhas os cochichos maltrapilhos del-rey de espanha, doutros que aqui habitam talvez, que lhe valem mais que teu filho? eis me aqui, já todo sangrando e tu não o vês?

Infante Pedro, que outrora seria príncipe da beira, manda-a vir de albuquerque agora que mataste constança de desgosto, e vá, casa, esbofeteia El-Rei com luva de cetim; e agora, vindos d'Oporto e abençoada por R. Sta. Isabel e Sta. Clara, assassina-se inês de castro, evitemos aqui frases muito conhecidas, tendo o mondego por testemunha de tal ato, mas o rio fingiu que não viu, disfarçou e fez que estava manchado de molho, só isso.

Eu, D. Pedro I, oitavo rei de Portugal, aniversariando um dia antes do autor deste texto, sangrei e fui drenado. Que sejam tomados de seus corações os cães a que se chama de diogo, álvaro e pero! ao menos não tereis vós que viver sombriamente como os céus me obrigam, eu, Rei de Portugal, tão frutífera terra, assisto as traças e vermes que me devoram e na minha barba têm seu ninho, e assim me sentiria bem, se pudesse sentir o que fosse; como estou, sou mais como inês; dona rainha inês de portugal, a galega, a rainha morta - e o seu rei que jaz sobre as próprias pernas.

sábado, 24 de outubro de 2009

a nova primavera do foakeanismo é um terramoto de cair o carmo e a trindade.

a nova primavera do foakeanismo são um solstício e um equinócio, juntando num dia só 27 horas das mais longas corridas.
a nova primavera do foakeanismo cruzou desde o além-mar à santos, florindo pela primeira vez todo o atlântico de jacarandá-da-bahia, mimoso e de ipê-amarelo.
a nova primavera do foakeanismo é quase noveau riche, quase low profile, quase tanzendunkel, quase poliglota, quase troglodita, quase alguma-coisa.
a nova primavera do foakeanismo é quase prelúdio e fuga em mi menor.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

tretas

Meu livro tá finalmente saindo do papel, ou para o papel.
[...]noite de autógrafos com champanhe e camarão empanado, bem!
[dica: não coma o camarão, não confio no chef..
mas pode comer o queijo, sabe como é, não é o chef que faz, espero..]
Com o alarde criado pelo tópico polêmico do meu livro,
vamos ter uma mesa redonda de simpósio cheia de nhém-nhém-nhém.
Líderes religiosos, negros e hispânicos, mulheres e anões,
todos rugindo e eu cofiando minha barbicha, e rindo, porque
vendar choramingos de fraqueza...é para fracos.
porque bois não choram.
{bzzbzz}
peraí.. tá me falando que boys quer dizer...
mas ele me disse que....
chama o luquinha que eu acabei de descobrir o que é aquela larica
que ele tem depois da aula de inglês.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

loirinha nº 3 (bêbado solar)

teu cabelo tem cor do sol
é como as luzes do túnel waldemar leão:
ofuscam-me até a alma
paralisam meu pensamento depois de um dia todo frouxo
mas mesmo com os olhos cansados, eu quero me inebriar de luz
sorver cada ultravioletência que me atinja
eu quero mesmo me inebriar de luz
sair trôpego pelas calçadas do jabaquara
cair no chão lá na encruzilhada e dar risada;
enxergar no poste só um branco leitoso.

me embebedar de ti;
entornar-te toda dum gole só.

loirinha nº 2 (petite fleur)

o teu segundo nome diz-te pequena; mas não diz como é infinita tua pequenice, nem que nela cabem todas as outras flores:

as jasmins, rosas, margaridas, macelas
as flores que ainda nem nome têm
- a flor da victória-régia -
a flor de ipê-brasil;
as brancas e lilás do manacá e as de laranjeira (e é desta o mel que te adoça)

e por fim a flor do mais rijo jacarandá que nasceu no pé da serra do mar, que venta as pétalas que te chovem até o pernambuco.

loirinha nº 1 (paixão e benção)

No Brasil, rio centro e sul, só a morena é que é versada (e eu as amo)
trançada letrada desmentida e endeusada
elevada à categoria de patrimônio imaterial da humanidade

Esse é meu dito sobre uma loirinha, a melhor coisinha brasileira:


loirinha pequena dos olhinhos verdesapo;
tudo em ti é o mais lindinho diminutivo
o mais acolchoado sorriso de almofadas
o mais ditoso despenteio;

loirinha, quando o vento te descabela, ele descabela luz
te despenteia em raios de sol, por mais que só chova.
e se talvez eu fosse nosso salvador jesus
meu sacrifício de corpo só seria o da cruz
se o teu corpo, eu o tivesse de salva-guarda
se minha carne, ora toda coagulada,
fosse mutilada para que lhe fosse servida de licor
que como era puro, alvejou tua pele.

e foi a primeira vez que ardeu o Senhor em brasa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

nachtlied/regenlieder

die Hörner Klang
und das Trompeter nehmen den Spieß das Mundstück.

---

será que ela dança? a bailarina balleteia sem parar.
o balé se chama bonne humeur/mauvaise humeur e não tem cordas
dois gladiadores
ou espelhos;
só há a atriz, a bailarina
e meu lábio sangra.

(continua)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Nanquim

as paredes da universidade sangram
e tem cheiro daquilo que cheira o que traz os nanquines ao mundo
as paredes de ondas de Matsu são vermelhas das algas
e da face de Guan Yu

marchar
marchar
marchar
pela queda de Nanquim

bravíssimos yanagawa
marchar pela queda de Nanquim
numa estrada de cabeças por blocos
por sobre rejunte de tripas
pela queda de Nanquim
camas de palha pedra feno pau folhas grilos
de chinesas han wu manchu min chu
mas principalmente han
belas han de olhos sinceros e brutos
de peles leitosas e boquinhas de hibisco
grávidas
empaladas
degoladas
han, min, e chu
bravíssimos guerreiros de espadas yanagawa

escrevam isso aqui nos seus panfletos.
eu nutro um sensacional desprazer por tudo que há de mais normal.

eu sou o montesquieu da nova geração de vizinhos de porta em porta no gonzaga e da pta. da praia

só eu digo isso; ouça então atento
na mesma face que te bate o relento
eu te escarro
e aí acho que não há lucro mes'.
só difamação.

sábado, 10 de outubro de 2009

Não me leve a mal

O cabelo louro,
o olho azul celeste,
clichê.

Sou o mordomo, rei dos assassinatos, sempre o culpado.
A união faz a força, ninguém me ama!
Sou previsível e repetitivo.
clichê.

Mas a do cabelo louro,
ah, sua pele.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

res.: bilhete azul

caro sr. prof. dr. ernesto, D.A., Ph.D.

favor encaminhar sua solicitação e reclamações ao RH. sua magnificência o reitor tem mais o que fazer (id est ele está em sua casa de praia em ubatuba).

d. ângela
a secretária

---

c) AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

requererei e reclamarei meus direitos!
defira-se ou declare-se ciente:




sr. prof. dr. ernesto, D.A., Ph.D.

---

e) MARX, Karl;

d. ângela

terça-feira, 6 de outubro de 2009

De mim para mim

O dia rubro suado em que você me inala calada, minha fumaça,
de gosto irritante que grita malandro,
do meu canto da boca que sai borbotando..
esgotou-se minha existência.

mas o narciso não notou que o melado da finda diária não o trazia prazer.
posto demais sensatamente, notou agora.

E noite sobe, desce, deito imolado aos amamentados alados que não me fazem sentido.
sois limitado ou descobriu-se o vazio da razão?

sábado, 3 de outubro de 2009

bilhete azul

venho por meio desta requerer à vsa. mgnificência o sr. dr. reitor etc o meu desligamento desta instituição constituída em sua maior parte de tijolos e pedras até mesmo onde inda poderia a grama brotar no meio dessa horrível s. paulo e de quãos-sábios patetas em geral. listo como motivos:

a) a moça da 2ª(segunda) fileira das terceiras aulas de quinta-feira não sabe brincar, mas resiste em abusar no seu farto decote;

b) a moça do cafézinho da faculdade de letras e filosofia nunca traz o meu mascavo em tempo hábil no período vespertino, antes das ministrações de língua baixo-saxônica/língua juta II;

c) AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

d) foucault;

e) MARX, Karl;

Tendo em vista as supracitadas observações, declaro assim o meu desejo.

Defira-se aqui:






prof. dr. ernesto

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

se eu num rio, se tu num mar, a gente num mangue
a gente num foz
a gente não faz.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Construí uma pequena vila com grãos de gergelim

do sésamo que brota da mais bonita plantinha de jardim
eu construí uma casa, e outras também
além daquelas que já existiam;
mas aí (eis que, então) veio um passarinho, bicou tudo e comeu.

(esse poema dá pra ficar bem maior e melhor, quando passar a preguiça)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

La Muerte!

Um tango de pernas para o ar.
Um clima quente, asfixiante.
E a balada dos casais que se tocam, soam, suam, saem
da roda, fora de moda, a troca sem palavras
e as carícias sem consequências amargas.
O tango é um pensamento triste que se pode dançar.

Mas os doces e leves beijos pairam.
O espetáculo dura enquanto o romanzae durar.
A balada se encerra e dou-lhe o último olhar.
resta uma voz que me chama, quase um suspiro.

domingo, 27 de setembro de 2009

o céu do galego

-eu conheço todas as estrelas que refletem nestes mares que não mais verdes são.
e elas também me conhecem. não me diga que não.
me sabem pelo nome do meio e apelido. manuel dos santos. até nisto estou lá pra cima.
minhas próprias costas se incomodam com cada edifício gigantesco que erguem agora por esta ilha toda. estirpam de vez em vez mais um pouquinho de firmamento. como fosse uma acupuntura perversa. muitos deles que os erguem também são portugueses, como sou. portugueses cujas padarias deram certo. lho digo, o céu está ferido e até ontem sangrava; hoje já é tão limpo e azul que capaz de um jaó quo atravesse correndo vindo lá do altiplano. capaz do macuco ressurgir da bacia que lho homenageia e se erguer no mais vistoso azul. voa macuco.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um oi pro Saramago:

Este sim, o penúltimo épico brasileiro, redigido pela minha mão destra e aqui transcrito a 7(sete) dedos; disseram-me que aqui eu ia ser grande, sendo pequeno, pois eu ia ser grandinho, agora posso escrever grandão. Segue-se:

-ali estava eu, sentado, a brisa já machucava a minha papada e, oras, a chuva chovia em quarenta e cinco graus de inclinação! (medidos com desetec) era como uma arquitetura de chuva, de nuvem e de chão, só que o chão era feio e o céu, rosa de fumaça, rosa-dos-ventos, também; tudo no meio disso era então o mais livre vão que poderia se arquitetar (vide o testamento de lina bo). O foakeanismo então tornara-se natural e entrava assim no mundo das idéias que não existem, que não existe, todo vestido de casaca, todo burguês, ouvindo villa-lobos no talo e achando bonito, pra vizinhança toda ouvir. Logo, se vê, ainda eu grunho, mas com tanta pompa que nem dá nas vistas.

-diz-me então, seu português, como faço para fazer-lhe calar essa boca? pastéis de sta. clara lhe ajudariam? mas que inferno de velho que não para de balançar esse papo de peru que se dependura de seu queixo, que só não é mais machucado pela chuva que chove em quarenta e cinco graus medidos com desetec por causa dessa boina príncipe-de-gales que o galego atochou na cabeça, esta porra dessa papada que parece um potão enorme de geléia mole defenestrada. Ai, que melhor seria se estivessemos lá em Santarém, na tua terrinha, onde cantam as lavadeiras pelo rio as antigas canções do portugal, mas, ah, no hai mais flor, do verde pinho.

uma puta caixa cheia de canetas

todas iguais.
Pretas tal qual a noite, mas a noite é azul, eu espanto o dia com água fria, com gelo e então eu escrevo muito mais.

A noite é mesmo meio rosa, depois de tanta fumaça, desgraça...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

1(um) ano de FÔ

O espectador

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma observação que fizeste

Disseste sem pensar, é provável
Ainda assim, virei o pescoço
Mas tão bruscamente que estalou;
Doeu pra cacete, então pus gelo

E depois então fiz este soneto.
Enchendo os versos com palavrório
Para poder-lhe chamar de soneto
mas das rimas eu esqueci.

Friend shooter

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

rascunhos (de verdade!)

meu avesso é mais visível do que um poste
-aceso
-no meio da calçada estreita que ladeia o cemitério da consolação, triste e bonito.

mas e daí?

serei o que hoje? serei um moço e uma, duas moças
que vomitam entranhas eléctricas

um moço que assiste, pálido e apático, de olhar distante, de terno e gravata pretos, camisa branca, gravata um pouco folgada e chapéu, boina ou côco.

uma moça recatada, católica, colegial, já descrita antes

e a puta.

monólogo final de uma peça que começou pelo fim (monólogo do pedro)

narra-se: perguntado se não tinha fibra ou víscera que fosse diante da puta e da moça que a sua frente vomitavam lexicamente, ainda que não de todo tristes, desabou o pequeno homem loiro:

-não entendo mais como pode ainda essa minha face corar; a minha fibra e vísceras eu pensava tê-las vomitado secas tal qual areia arando minha garganta em baldes potes bacias e tigelas ante as putas, somente entre as tuas, que me se davam a ouvir que era só isso que me fodia mesmo fazia dos pensamentos putas e destas consolo e seus consolos elas que os enfiem onde não me afete. S.Paulo me cafetinou fez-me puta de mim mesmo, faz-me vestir este terno cinza e deixa meu olhos cinza e fiz-me surpreender quando meu rosto enrubeceu, ainda assim, não sou humano, sou uma peça minimalista; de intervenção artística e protesto ou como o MASP, ao estilo de Bo Bardi. Eu só me faço humano quando, expondo meus pentelhos ao vento (que não são loiros como meus cabelos, mas pretos) me acabo em punheta na minha singela homenagem às moças colegiais do rio branco, do sion, do colégio s. luís, e, nos dias de chuva, até as do mackenzie.

E me compadeço, com as putas.

testamento de lina bo bardi

eu só achava s.paulo cinza porque nunca havia me apaixonado por uma paulistana

-essa de agora, quando anda pelas pedrinhas, me faz perceber as cores com a sua horrível mania de só chutar os pequenos minerais vermelhos.

p.s: quanto a atriz, ela merece melhores poemas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Caiman crocodylus yacare

jácaré não tem tomada, jacaré não é tomada, jacaré não sabe tomada, jacaré não sobe em tomada, jacaré não come tomada, jacaré é a puta que lhe pariu, amigô.

Caiman crocodylus yacare

jácaré não tem tomada, jacaré não é tomada, jacaré não sabe tomada, jacaré é a puta que lhe pariu, amigô.

poema da estafa

está fadado ao cansaço aquele que trabalha
ou quem acorda cedo com o fim de ir passear

esta fada do cansaço abençoa a todos
com o mais profundo pesar diante de uma cadeira acolchoada

és tán bruto!
pero aún así, prefiero morrir antes que nanar sin oir a miles davis o ginastera!

(pero aínda así, eu preferiría morrer a durmir sen escoitar Miles Davis ou Ginastera!)

sábado, 12 de setembro de 2009

pra não sentir saudade

E hoje o mameluco virou moçada,
queimando a cana pra melar na praia
vestido de tanga das cores da bandeira,
e a terra molhada e bem passada já não abriga palmeira.
Em casa, periquitar e no trabalho, assobiá.
E o suor do couro de canhem babá é
zumzum caboclo que sopra na fumaça,
da arte da bola, da serra morena,
nossa cachaça.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

logo, morrerei
sob o signo claro do luar
sob o signo desgastado de um boteco qualquer
e aqui o bar poderia ter rimado (mas não)
luminoso.

minhas últimas palavras? cu, pra quebrar essa aura mística e rebeldezinha metida da poesia e deixá-la feia, que nem o que quer que for real. feio pra caralho.

poema dos músicos

a poesia dos músicos
toda cabe num pizzicato de ravel

e quem disse que nós precisamos de poesia?
nós a temos em nós mesmos como fosse o ar, inexplicável por ser expelido
nós somos a poesia abstrata mais concreta que há
poeminha sem palavras que somos
nós, a poesia dos músicos

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Com vocês ao amazonas

Este que vê, engano colorido,
que, da obra-prima exibindo os primores,
com falsos silogismos de cores
o cauteloso engano do sentido;

este, em quem a lisonja pretendeu
desculpar dos anos os horrores,
e vencendo do tempo os rigores
triunfar da velhice que o esqueceu,

é um fantasioso feito do cuidado,
é uma flor ao vento, delicada,
é um respeito inútil ao fado:
é bop, é bit, hun pá, camará

é um cansaço caduco e, bem visto,
é cadáver, é pó, é sombra, é nada.

é festa da cumeeira.
é o fim da canseira.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

fresta de céu

Há uma frestinha no céu
por onde a galinha pode voar
pode passar, meio d'esguelha
por aquela nesga de luar
sem botar os pé no chão;

por lá é que ela vai na tempestade.

havia no galinheiro a mais tranqüila paz que se há na intempérie. ao som do próximo trovão, a galinha branca que ciscava levantou a cabeça como fosse heroína de filme fitou de soslaio a ranhura nas nuvens do firmamento e, pé ante pé, batera a asa, e de novo, e mais outra vez vagarosamente, pulou e voou, sumiu, mergulhou nos estratos mais exteriores deste planeta. vigiando a cena, disse o galo: deixou só a pena.

e todos voltaram ao cisco.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

a nova primavera do foakeanismo

na nova primavera do foakeanismo tropical, chove-se desesperadamente. lá, entre jardins de ervas e mato e flores de cores de almodóvar, o felix se chama felix mesmo. lá, só lá. o lugar dele, é lá - lá tem caipirinha de graça.

amanhã há de se chover desesperadamente

me embolarei em casacos de lã sintética, lerei a dilética (e tal tal)
e deixarei que chovam as folhas sobre esta grande cabeça
esta jaca que habita o meu ser
o fardo de cérebro que eu carrego pra lá e pra cá
e deixo que se revista de cabelo
e lã sintética;

de s.paulo não se vê o pôr-do-sol

só se sente o abafo
nas costas e no rosto
e na pele o desgosto
cuspido pelos carros

só se vê as putas e os coitados
na avenida mais rica do país; adianta?

se olhares ao horizonte, não o enxergará,
e ainda talvez tropece num buraco, uns pedaços de calçada, quebrados,
desgaste, sei lá
se não toma cuidado.

a atriz merece melhores poemas

sem tantos dilemas
com mais ardor
com mais odes à seus cabelos tão negros
com mais elogios à sua profissão
com mais tudo;

e é tanto mais, que eu nem sei dizer.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

a nova primavera do foakeanismo (rascunho)

sopra um ventinho bom que não é noroeste
noroeste é só no verão
noroeste é só lá em santos

o sol queima minha roupa pesada através dessa nuvem nojenta de carbono
na cidade de são paulo

pequeno monólogo da moça recatada

Se eu durmo com ele mamãe me aporrinha eu sou violada profanada aberta comum (como fico?) pós-moderna tranqüila levo nos pares de lábios sorriso e nos olhos satisfação de travesseiro.

por este próximo parágrafo, a voz vai fraquejando gradualmente, até um 'veludo' quebradiço

Se eu não dou não caso mas caso de branco de véu e grinalda e longa uso a saia; eu tenho vergonha e aperto no peito remorso fechada intocada fazendo fachada de intocada emagreço de ruim e brinco no chuveiro trancada no banheiro com o sabonete receosa meio escondida na espuma o riso vai nos olhos e na boca conforto feliz e católico que um lábio senta no outro como fossem sofás e futton de veludo...

[A atriz se veste de saia ou vestido sem decote ou apelo sexual que não seja aquele falso inocente das meninas da igreja que mal-disfarçam a lascívia carnuda perversa só mesmo no mundo dela trás-as-córneas e cristalinos...]

pausa. a moça se olha no espelho com culpa. a voz é mais decidida agora, porém é voz de sofrimento vão e fútil.

...visto a calcinha e me deito. Sinto o cheiro da vida mas não a toco, e quando eu não alcanço, o desespero é tamanho, a dor é tão grande, as pernas resistem às investidas de minha própria mão, logo vejo que fácil resolve e dissolve o dilema, não entre dedos, entrelinhas, somente entre as minhas.

lamento antigo

Morena, eu tenho saudade de ti
De coisa alguma
Que nunca aconteceu
Saudade do teu peito, no abraço,
Encontrando com o meu.

Morena, meus pulmões são de pedra
De tanta fumaça, tragada de graça,
Num respiro súbito tua cor inalei;
Pulmões de granito
Que servem de taça
A um coração sem lei.

Tenho saudade derramada em luso lirismo
De um beijo roubado com desculpas fingidas
De tocar os lábios, ainda as pálpebras despidas,
Vergonha de chorar como chora um português

morena
Ferreira-português chora
com a taça de Porto na mão.

morena
tens cor de tawny
que eu pinto com tinta de sangue e ametista
pra entornar-te toda dum gole só

morena, da terra brotaste tu
pra me fazer contraste
encosta teu seio na muralha
todo pelo teu corpo nu

Uniformemente Vaivirado

.
.
Serei tudo o que disserem
Por inveja ou negação
Cabeçudo dromedário
Fogueira de exibição

Teorema corolário
Poema de cagalhão
Lãzudo publicitário
Malabarista cabrão
.
.
.
.
.
Serei tudo o que quiserem:
Poeteiro castrado, não!

















domingo, 30 de agosto de 2009

ela é atriz

dos cabelos que escorrem sentada se finge ofélia como se brincasse com bonecas
mas sou eu quem me jogo no rio do teu riso e me deleito em teu leito
mas dessa vez, rainha me salva e então te trago na boca uma flor
de vitória-régia que eu pesquei no chão

cravo e canela da atriz.

maquiagem

ó feia, mulher feliz.
de feições, um holocausto à simetria.,
onde se mete este nariz?


desmerece a dó.


olhos cobertos de toldos grossos,
beiço cheio que beija seus filhos
e assusta os nossos.


pernas largas que se ralam,
nádegas desbotadas que rebolam,
pés tortos que se enrolam.


penugem atada a nó.


cabelos nem ao vento que não o quer,
bochechas vermelhas pelo ardor das orelhas,
ô feia, mulher.


feliz.

uma ilha de paz no lago paranoá

o buriti não é aqui no pico do jaraguá
o buriti tem um busto do guevara mirando a esplanada
atrás do lago paranoá

uma ilha de paz logo atrás de um palácio do governo
de água feita pra evaporar, ver se chove na terra seca,
vê se molha o cerrado
ver se limpa o senado
ver se lava a rampa do planalto
ver se causa indagação;
se chove,

vivendo a graça

raspa-se os pêlos das mãos,
e a carruagem passando,
tira-se sobrancelha,
e a chuva chegando,
embebeda-se no perfume,
e o verde da grama,
pó branco e azul,
como você se tornou uma dama.

beijos intensos
de batom vermelho bordô,
na fumaça do incenso
você popularizou,
a onda de sair do armário
e ir para as ruas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

trezentos e três o número místico (suíte vila rica)

Anda-se pela vila rica toda cheia dos balonês dizendo que tá perfumada feito flor pelo canal que sente a dor de todo o esgoto clandestino da cidade, de todos os jamboloeiros que sujam os pára-brisas dos carros indevidamente estacionados, de suas raízes que se entranham nesse aterro de mangue, anda lá achando que é a oscar freire, a rodeo drive, tocando interfone e saindo correndo de salto. Anda lá santista, respira esse ar de silêncio e veste as havaianas, que isso só pode ser benção.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

luz

Os arrepios que descem às costas dos pés, do corpo librado,
e sua mente noctívola, de poeta naufragado;
Os beijos que te cobrem como corolas perfeitas,
e os ais angelicais que se misturam ao som da noite;
numa espiral suas tenções atingem patamares divinos,
e então, o regozijar da escuridão pura e sem pudores;
pois pela primeira vez na vida,
percebeste que nada há, mas tudo há de ser.
Na noite velha mais completa, a brisa sopra uivos de prazer

felizes são..

sentado ali.
dono de vastas terras, o maior criador de probrema da região.
enquanto observava a considerável amplitude, recitou em tom solene:
-nem uma ruga.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

passeando

Não te conheço mas a quero. (neste ônibus vazio)
dor adolescente de paixão.
o cair moroso do véu em franja revela olhos de carvão.
o meu íntimo em brasas.
Não te conheço e assim a quero ainda mais,
brilho no carvão, de brilho eterno.
Alguém que um dia eu vi.
E em nenhum outro segundo além.

domingo, 23 de agosto de 2009

o dr. venâncio josé lisboa presidente da província de s. paulo etc
faço saber a todos os seus habitantes que a assembléia legislativa provincial decretou
e eu sancionei a lei seguinte:

artigo único –
fica elevada à categoria de cidade de santos
a vila do mesmo nome
pátria do conselheiro josé bonifácio de andrada e silva
revogadas para isso as disposições em contrário

mando portanto a todas as autoridades
a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer
que a cumpram
e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém

o secretário desta província a faça imprimir publicar e correr
dada no palácio do governo de s. paulo
aos vinte-e-seis dias do mês de janeiro de mil-oitocentos-e-trinta-e-nove
(a) venâncio josé lisboa

sobre o interior de s. paulo

pamonhas, pamonhas, pamonhas;
pamonhas de piracicaba
venha experimentar - é uma delícia
pamonhas de piracicaba: é o puro creme do milho.

Sobre chocar a alta classe

Um homem, sentado sozinho à sua mesa, depois de impressionar o sommelier, depois de degustar os mais finos tratos da Figueira Rubayat, palita os dentes; por que manter nas mesas paliteiros, não sei, não sei, duvido muito que de fato isso se passe lá nos Jardins, mas veja bem, chama-se palito de dente, muito usado pra ver se o bolo já está no ponto.

meu lugar é onde

de dia anoiteço
de manhã, enraiveço
de tarde, faço um berço
de noite, a conheço
na madrugada, molho pesto
de tardinha, espesso
de ontem, vai manjericão, azeite e pinnoli, que pode ser substituído por nozes se não achar pinolli, pode ser castanha-do-pará pra ser mais brasileiro, mas aí não é pesto genovês. mas eu posso ser brasileiro, não fujo à sorte, eu posso ser genovês, lógico que eu fujo da morte, só não daquela morte do saramago, se bem que desta também fujo; não toco cello.

meu lugar, é onde. não esquece o sal.

a poesia que se foda sozinha

enquanto eu adentro
surdamente
o reino das palavras
a república
a comuna
portuguesa
das palavras.

silêncio na baixa da consolação (a metafísica do ateu)

o reino das palavras portuguesas é mudo e silencioso
feito de frases de efeito.

penetra-o
surdamente.

TV Minuto (vida de pão de queijo)

muda me fala pelos olhos
lacônica diz-me que chove lá fora do túnel
e eu me rio
eu no rio

eu corro pra lá, pra cá, escondo poemas no meio das macunaímas e das severinas
e rio, eu no rio, leio numa casa velha, só leio, só velha
mal iluminado por um poste da rua que atravessa a fenetra.

e tal tal

é claro que esse título é bom demais
pra um poema tão ruim
só que eu não posso perdê-lo, não, mas depois eu mudo, tão mudo quando a tv minuto. me mudo.

De Stijl

Eu sou abstração humana com pêlos;
Meu rosto incha do lado esquerdo (sou quase de stijl em mim).

Tenho em mim diversos dantes, só que todos escrevem só monólogos, tendo em vista os custos de produção.

Aí tem essa moça, que passa, toda bem-vestida, toda sabida e tal
de pele limpa, achando que é quase alguma coisa; não sê tão aristotélica.
Eu me humanizo em pêlos no peito, em tê-los no peito. O peito não é mais coração, lugar-comum, é só peito, onde nasce cabelo, ainda bem que não nascem na mão.

me olvida

a poesia que se foda sozinha.
um ode à palavra bruta, em gema, na rua, no chão e no asfalto. Diz que
penetra
surdamente
no reino das palavras

diz isso
que mergulha
surdamente
no reino das palavras

-adentra.

lugar-comum

imagina um pântano de ressaca brava de mar, um pântano com onda encobrindo as árvores, um mangue turbulento passando em baixo de uma estrada um mangue lamacento trocando palavras com a iara tudo isso debaixo do mais alto sol.

imagina um tiro de espingarda um lago transbordando de patos que nadam em direção a um regato um pato no mato meio calvo.

imagina só.

imagina um canal todo verde de musgo um canal todo verde verdade de limo de cuspe de esgoto clandestino de morto de vivo de manjuba de garça de mato de morto de moto demito de mito de chuva de sol de chuva de nuvem de chuva de espiga de lixo de saco de mato de mito de chuva de hibisco de jambo de folha de mato de mito de pomba de pombo de chumbo de óleo de escarro de lua de sol de chuva de gelo de luz de mãos de mim.

imagina.

meu lugar não é aqui

saliva sem rumo, que escorre pelo mento, escorre pelo seu longo gargalo, marcado de beijos amargos
estendida na cama com lençóis de seda, amando o passar do tempo.
nas molduras sua reflexão, uma ode à beleza. apunhalando nossas deformidades laudatoriamente
sua majestade tem o dom. tudo no mundo é metáfora. todas palavras são vazias
perseguida pela ingenuidade dos lindos solitários, solitários lindos
absolutamente só, senta-se à frente da vidraça e remoinha os peitos, delicadamente
então beija a si mesma com lábios doces e sem rimas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Black spot in a worm hole

terça-feira, 18 de agosto de 2009

tempo: vento

No mais tardar, serei breve
E assim sendo, como a semibreve,
À tua integridade estarei atento;

Não mais deixarei-te ao relento
E nas cachoeiras do rio paulista, que faz vento,
lento como é, farás da intempérie
-das bátegas que caem como rajadas em série-
mero verão que só os melros verão
acomodados em suas árvores de tabebuia.

sábado, 15 de agosto de 2009

estudo: versos em pele - hibisco (a ser desconsiderado)

é dos olhinhos puxados
das curvas suaves de seda
teu rosto me mostra vereda
por caminho do teu coração

são versinhos de papier mâché

é do sorriso aberto
do lábio que parece uma flor
da língua cor de cereja
a qual dá ao vento sem pudor

é dos olhos afinados
do lábio que parece um hibisco
quando arranha minhas costas
com as unhas rubras de tinta
me morda o pescoço
só pra me deixar arisco

me diz o que eu faço, moça bonita,
não precisa nem dizer por favor;
eu só queria morder a cereja, morena
eu só queria beijar a flor.

(Olhinhos puxados me cercam como papéis de parede me embrulham, rasgados,quando presentes São todos iguais cortados com faca suíça de nobre metal Só cópias baratas dos teus, e de afiado corte dorsal)

Herói brasileiro, meu cu num é imã (poema-côco para voz)

corre atrás da água do rio
corre atrás da água do mar
se um dia eu voltar seco
é porque o sertão virou mar

o sertão já virou mar
o sertão vai virar mar
o sertão diz que não
e repete a sua sina
há mais de dois centos de anos
a vida e morte severina

um pau de arara pra sumpaulo
um ônibus velho sem viação
nas minas gerais me aporto
pelo norte do sertão

belo horizonte, lá vou
de saco preto bigode preto, baldeação
à bordo do ônibus de sumpaulo
paraíba chapéu na mão

vou voltar pra joão pessoa
pelo rio braço de mar
vou voltar pras cajazeiras
onde dão castanhas, no rio do peixe do são joão

vou é buscar maria e irene
vou buscar explicação
quando chegar em sumpaulo
de como faz pra tirar o sertão
pelo trabalho que eu valho
da fome d'água sem farinha é pão

Trabalhar na volkswagen
Trabalhar na sé, s. joão
me espera a cova rasa e eu pedindo de copo na mão

calango na parede
do prédio alto com bandeira
eu te digo irene não vale a pena

eu vou membora pro sumpaulo
pato preto cai no chão
vou membora de asa branca, saco preto, saco de pão.

e aqui de saco preto, bigode preto e indagação
morri-me num canteiro, ainda tinha chapéu na mão;
minha lápide é toda clara
acima as honras do país
que havia de mim esquecido
até que o cheiro deu chamariz.


gado

Trata-se de um peão
de soja seca-mato;
tratando do seu gado,
engorda de boi calvo.

um boi-tamanduá
que se encontra nessa mata:
não é mais o mesmo
não é válido de se achar

o boi
ô boi

um boi com um tacacá
que te ataca nesse mato
não sobra-lhe mais o medo
é velado em altar

como há de ser o boi que morre
por coragem e estupidez
como diz que é o boi que corre
por longe da insensatez

morre.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O amor é um soneto de fim dúbio

já este texto, não.

(onirismo) -eu acordei tocando jobim

acorda devagarinho morena
e diz que eu não devo derramar no piano o pranto,
que como um véu de pano,
aquece o meu sono; me liga às quatro da manhã,
e diz que era engano, te amo, te amo,
mesmo pisando no meu coração...

---

a sabiá-coleira arrulha na minha janela de manhã;
vai embora passarim, traga de volta o meu amor
sem dizer aonde estou, diz a ela que não vou
não vou não, só vou amanhã, se não chover, amanhã; depois.

Escreverei-te um soneto, chamarei-te de senhora

Não lhe conheço, senhora, estava
Ainda que há pouco, a lhe esperar
Não te abraço, pois que és tela frágil
e lha haveria de chamar por nome falso

nome fácil, nome ruim, nome que me reduz à estafa
de um homem que sorri até que lhe doam os músculos
da sua face, quase alva, exposta à ardência do grande sol

me arde, moça senhora, te chamo por nome fácil de dizer
sai da ponta da minha língua tu alcunha seguida de nobre
elogio de sentido clássico ou falácia taciturna;
e lhe digo, senhora, queres sonetos, queres romances, seduza a Alencar - de mim ganharás pronomes e conjugações mal casadas, brancos versos, livres versos, adversos, dispersos; ganha nada.

se eu me morro (de amor ou libido)

Digo à vocês que escutam:
Digo-lhes sem saber nada
Passando em claro a madrugada
Que com olhos verdes não se brinca;

Tal contraste releva em teu rosto o céu da manhã paulista
Faz com que eu, faltando da cegueira habitual, enxergue
até atrás do MASP
até a serra da cantareira
encravada na tua íris como o marisco na rocha ou o mais antigo ipê
faz-me varanda, de flor amarela, faz-me pequeno em seis metros de estatura
faz-me, simples, me faz escrever um soneto que sou teu.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Wave

era o alto da paulista
lá fizeram de varanda
de museu uma ciranda;
salva-guarda da cantareira
salvo-conduto de correntes
ar no atlântico sul.

flutua, como flutua a lua
como flutua o andaime do empregado
limpa a janela e olha o decote da moça sem resguardo
lava a vidraça, a rodo e balde, do edifício são luis gonzaga

com a boca
beijando o vidro
tocando o pó
lambendo fumaça (e a tosse)

por isso não há limo no trianon.

domingo, 9 de agosto de 2009

La gomera

Para repor meus pensamentos e aliviar as exigências da pomposa e ilustre pança que me cobra e me cobre, um texto terá que ser posto neste espaço designado.
Pois bem, vamos maturá-lo, alimentá-lo com idéias não tão engenhosas.
Se começarmos com.. Uma menina. Isso não o agradaria.
Inovar é importante.. Um travesti. Ainda muito usual.
Teremos que ir com.. Um hermafrodita.
Que.. faz ponto no cais. Não, comum.
Que.. é de luxo. Hm, luxo não se encaixa nesta estória.
Que.. faz ponto no cair do dia na Garibaldi.
Perfeito.
Miriany, hermafrodita, faz ponto no cair do dia na Garibaldi.
O vento frio de julho a força a usar um coturno, dificultando a clientela que não vê o produto.
Ela faz conchinhas com a mão grosseira para acender sua bituca.
A noite é sua para aspirar, o cheiro da armadilha.
Armadilha sua que está aberta, a cilada para os pássaros que se encontra a ponto de disparar.
Alguém desce do táxi. Entra na locadora ao lado. Nem a olhou. Timidez ou objetividade?
Sabia que muitos sentiam asco. As gônadas que se convertem.
Hermafrodita protogínica. Auto-polinizam.
Miriany gera novas flores e frutos.

sábado, 8 de agosto de 2009

A problemática do choro e do tango

Construídos sobre melodias intransigentes, como quem pede para ser anotado, aquele é sonata e este é dança, e logo se encontram e se contrapõem em dois movimentos de ciclos alfandegários, portuários, carioca e porteño. A problemática que me traz à esta milonga, que me traz esta milonga, diz-que-me-diz que está contente na madrugada nublada desses dias. Pois que não era necessário ser dito; não fosse assim seria samba no banco da praia, da praça, no jardim.

domingo, 2 de agosto de 2009

Expresso Mossoró (a fundação de S. Paulo)

Batia 9:37h e conforme informava a tabela devidamente pregada a dois rebites à antiga parede de alvenaria aportava o trem do Expresso Mossoró, Senhor o chapéu, Leve-o, Obrigado, À que horas é servido o almoço, ao meio-dia mais três tilintares de quartzo. Dispensado o serviço de bordo abrira o recém-adquirido livro sobre as memórias póstumas do fundador da Vila de Todos os Santos e fingiu pra si mesmo que lia. Sim, fingiu, pois que este Brás Cubas era outro. Como escreveria depois de morto, se perguntara ao avistar tal título, rira da estupidez do autor e comprou o exemplar por pena, lá nas bandas de Natal. Folheando a brochura, lhe escapavam arranha-céus e vinha a areia, areia, areia; areia.

Clara, deitada eternamente em berço esplêndido

Clara, és forte como o vento
passa sem tamanho
corre como o tempo;
foge das minhas mãos.

Clara, te digo sem temer
que és intempérie
como quem diz que te espera
o que não é ócio ou dever

Clara, és alva
mas isso é óbvio pois o diz teu nome
proferido pela minha boca, some
engulo a folha do vendaval

Clara, sou Ana
sou tua, sou nua, sou brava, sou morte, e foges de mim
sê mais brasileira: vem de encontro ao meu seio,
mostre à terra que a filha dela não foge à sorte

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eis-me aqui, o parnasianismo.

Jacutinga, tens rubro o pescoço
E acompanha com teus laterais
olhos a crescência dos palmiteiros
Cujos frutos comes o ano inteiro

Jacutinga avua e pousa no moço
Pesa seus músculos intravertebrais
Jacutinga quando eu sou parnasiano
Sou como um elefante mastigando um canteiro

Ai jacu avua.
Vai jacutinga, faz ninho na bromélia
Chama a planta de boléia
e choca.
Jacutinga sumiu.

(onirismo) -eu acordei tocando ravel

eu acordei, mas cotinuei deitado, olhava o teto, enrolado;
eu acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
eu acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, mas continuei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, e fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, abri os olhos, deitei-me no teto, enrolado;
acordei, fiquei deitado, olhava ao teto, enrolado;
acordei, fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei ACOREI!

Mamãe, não quero mais ser indie

Falaremos então da jacutinga, do macuco e dos marrecos, versando paranasianamente, assim que o sol raiar.

(onirismo) - eu dormirei tocando Villa-Lobos

dentre os maxixes e os choros
eu descansarei contente
a cabeça no canto do violão
adoçado com a garrafa d'aguardente

sábado, 25 de julho de 2009

(onirismo) -eu acordei tocando strauss

johann II, senhor, e foi reconfortante,
vinho, mulheres, canção, o danúbio já poluído
e um poema sinfônico em construção;
e fui gravado, para provar tal fenómeno,
mas vendi a fita pro telemarketing.
ou para a quinceañera de alguma moça.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

(onirismo) -eu acordei tocando beethoven

doutor, e foi tão estranho
as notas, legatos, ostinatos, sapatos, dançando
sonata, patética, a fuga, piano
eu sabia, mas não, não ainda
então, acabou.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Prazer, privilégio

E você me leva à noite sem estar aqui.
No seu leito, na minha casa, onde tudo é seu e os meus eus não são mais bem-vindos.
Um dedo que puxa o elástico de seu sutiã, e larga,
Condena a pele como o vestígio de minha palma sobre sua nádega.
Vibrante.
Acordo sozinho, uma forma crônica de depressão.
Acordo sozinho pois sou alguém a ser evitado.

à todos,
à todos meus amigos,
o afogado de bebida de olhos cheios
o alaga de aflição amanhã.
E não quero mais regressar à casa; passar meus dias nos sonhos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

-muito.

São pequenas fotos de sons de chantily que as encantam, naquele simbolismo leve e fora de contexto. Já o silêncio na parede branca pode ser cortado com uma faca, mas é cortado como fosse manteiga, fácil, viscoso, mas manteiga batida em casa, num pilão ou coisa assim, coisa cujo nome eu já não sei por ter nascido na cidade, ter morado sempre na cidade, ser neto e bisneto de cidadãos, não há como saber. Não que eu preferisse ser bucólico, vê lá se eu tenho cara de alberto caeiro por acaso, o meu rebanho só banha minhas banha, isso sim, vá lá manuel.

bom, a parede branca; era daqueles brancos-gelo, branco morto, mal-pintado por algum faz-tudo, o que cobrasse mais barato. o sol já baixava mas o céu ainda não era amarelo, e as nuvens eram só algumas; o sol porém grande apolo era empecilhado por um prédio de arquitetura duvidosa. pois então que via-se nas paredes as manchas e imperfeições, ainda que fosse uma parede limpa, salva de encostões ou encontrões ou até mesmo camiões, nunca se sabe nos dias de hoje, este trânsito maluco né? pois que estavam as duas sentadas num sofá uma no meio outra no canto de cá quando esta disse, e esta era morena dos olhos verdes com o cabelo preso num arco roxo expondo a testa arredondada e curta e leitosa, pois que esta disse, que valham os lusos que fazem com esta cidade, pois dão-na espaço para hipermercados de todas as possíveis redes da américa do norte, mas que merda fazem, pois que façam, impeçam-me o sol ou a luz da lua direi-te que farei, pois que diga, pois que nada sentarei no sofá farei ovos mexidos, gostas?

terça-feira, 21 de julho de 2009

.

Não quero palavrório grandioso para um idéia pequena.
Quanta baboseira imprestável!
Eu a amo e isto é o fim.

domingo, 19 de julho de 2009

Cada palmeira na estrada tem uma moça recostada

ó mar salgado
muito do teu sal
é lágrima de portugal

e agora não há mais água que mate a sede
e por quererem vós conquistar todo este mar
salgaram-no como o fazem com o bacalhau;

mas não durou, pois o Tejo abocanha o atlântico
e vem até
e vem pra cá,
faz cócegas nos meus pés,
aqui na terra onde Brás Cubas arrastou os saltos
e, segundo diz a lenda,
Brás Cubas nunca havia tirado os sapatos altos
até se encuriosar com a textura dessa areia;
areia hoje suja de petróleo, da qual me protegem as meias.

Valeu a pena conquistar o mar?
A alma brasileira de certo não é pequena.

-e pensar que o mar já foi doce.

---

II.Bahia

Cada palmeira da estrada
tem uma moça recostada
cada frase roubada
, um escrúpulo explicado pela madrugada

Em cada estrada de palmeiras
Um caminho à Bahia
Cada sentença aplicada
um dia, dois dia, três dia

Cada rima, um desperdício
Cada soluço, um armistício
Cada letra, um reinicídio
of those who reign within

---

III. Of those who reign within

A conspiracy for each of us
and for all who have waited in vain
Unite, lonely wankers, love-shy debauchers
Kill the king
govern yourselves
arrest your dames
then cry.

---

IV. Cabral

Aqui deixaste o teu padrão, também
E por te dizerem fraco diante da tempestade
Nunca mais fostes mar-além
como quem diz, ai de mim, ai que sou
morreste em Santarém

Pero dizes, ai da terra e ai do chão
no qual pisarei, pois hai de ser em vão
E te digo, não, pois Pero fizestes
das chegadas a mais importante
Mandaste às quinas lembranças do porvir
Levaste o pau em brasa
construíste minha casa
e daqui não hei de partir.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

pelo amor de deus, o carnaval

vai pra baixo minha gente
quando passa um, passa dois passa contente
tropeça num paralelepípedo, cai de boca, cai o dente
AGORA TODO MUNDO

-AH MEU DEUS! Minha zebra pegou fogo! fogo! fogooooo!
mas; -AH MEU DEUS! Minha zebra pegou fogo! fogo! fogooooo!

fogo!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Eclipse

Um tigre e um dragão vindos do cataio hão de comer o sol se não lhes devolverem a lua, que faz noite às três da tarde e manda o macuco e a jacutinga, confusos, já pra toca antes do jantar. Que se há de fazer então para que vá embora, a não ser chamar os trovadores e menestréis, tocar tímpanos e panelas pro luar? mas o menestrel e o trovador, eles não julgam ninguém, não; sorriem por poderem tocar, e quando cantam, não é por si mesmo, mas pelo que observa; o trovador não te diz fingido, só diz que ainda que fosse, teria valido a pena.

O luar é espelho do Cataio.
O tigre quer Selene-deusa e não musa de volta, chama do cris de lua e não vem.

sympathy.

Eu já nasci de coração que sente forte
Mas fui feito assim de tato fraco
Por aquele que me tomou no escuro (que era escuro como o cris da lua de cascudo)
a poesia d'eu escrever

Pois eu já senti tristeza, pois sim,
E então, fingi que não sentia;
O coração, lugar-comum nas rimas,
e o meu é forte quando bate,
Chegada a hora vira forte que ninguém empura (ou já não existe mais)

sobre a estética do fingir.

Eu finjo porque a vida não me toca.
Fingir é um golpe desferido na bochecha da cordialidade
Um tapa que se dá no vazio pra ver se atinge Clio, de quem tanto se ouve
ver se ela acorda, se ela liga, se ela existe;

E se golpeia com um sorriso de canto de boca
Por não querer acreditar que o mundo seja uma ilha cercada por jardim e porto
incrustrada de fontes dos sapos
Tão parado, tudo morto.

Eu finjo pra espantar o frio.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

na esquina

Eu acredito no trovador deste cunhal que canta dos bens a vir.
Ele então pede um trocado e eu lhe dou todo meu dinherio amassado,
porque o bem está mal e o trovador ri com sua cara-de-pau.
Ele então canta com alegria e harmonia, de sorte com o montante,
que eu sou nada além de um fingidor, de modo geral,
sentimental, arrogante.
Eu o olho de baixo para cima e acho sua barba de brancura da prata,
mal-lavada, que reflete o meu rosto, sem sal, sem gosto,
e vejo nos meus olhos a felicidade de tempos atrás,
quando tudo era modesto e eu um rapaz,
e eu não precisava me afogar neste troar.

Eu não finjo.

sábado, 11 de julho de 2009

sobre a língua portuguesa

é esta a língua dos poetas, a última flor do lácio, a mais bela e mais selvagem;
e quando o malandro de fala suave te proclama, diz Noel, és brasileira que dá samba.
Você é morada dos poetas pois estes moram na madrugada que é só tua, que serve como uma habitação tão escura que o teto não se enxerga, e cujas camas são pontes e postes de concreto largados e traçados pelas cidades do país. Dás aos que dormem pontes e postes, e aos que comem, dás saudade como pão, salada; obriga-os, porém, ao vegetarianismo, pois se abusam das carnes quentes logo morrem ou se perdem.

I - da Madrugada;

Não é mais escura como o breu: a poluição te deixa cheia das nuvens rosadas, e há tempos não há estrela que pouse a luz sobre este cais que agora corre da escuridão e de Martins Fontes com suas lâmpadas fluorescentes, com seus velhos aposentados e socialites de nome sujo na praça, protestado em cartório; me rio dos bingos e cinemas fechados, dados às baratas e aos mendigos que tanto nos orgulhamos de não existirem -só prova que o IBGE é tão cego quanto nós.

II - da Saudade;

Desta eu já não sei, não a sinto, apático que sou como deveria ser. só sei que dela chegou-se de terno gravata e piano, de sola do pé pisando no chão molhado pelo pranto de alguém que sonhou um dia em poder fugir da monotonia. Santos em prosa é uma música parada, de voz sussurrada, como se João Gilberto fosse querer alguma coisa com esse pedaço de ilha; mas aqui dá eco.

baião

fazer da vida o que acontece
na viagem no agreste
comum que era teu como um que era teu escravo desleixado
um homem pouco borracho
um outro com voz de escracho
dizendo que era dele o que era teu que era meu que era ateu
um homem chapéu de palha
um homem vestindo saia
um homem que era bossa, que era tango del arrabal
porto alegre são paulo em santos em sua baía, menina
te quero como que era como quero como o que eros fazia contigo, menina, me nina
menina

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ana

sempre tem dessas que dizem uns ais
dizem que dizem que dizem uns ais
sempre tem desses que ditam, que ficam, que lutam, que puxam
-até amanhã!
És Ana, Mariana, tens banda tens luta, tens sangue ou amor
- és Ana!

Por seres Ana, tens chama, me chama, me canta na rua na tua
sem maquiagem, estás nua; és Ana.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

E se,

Já sentiu um coração amargo, que dói, que soluça ao devaneio.
Já sentiu um empecilho, que o obstrui, o desvia ao vazio.
O vazio de estar, o devaneio do ser.
O amor.
A leveza que com amor fica obesa,
O terno do amor agridoce,
O amor em toda sua carência,
Se toda carência pura fosse.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sobre noites e dias

Eu levito,
numa valsa desgastada de uma Paris gelada,
num 'concert pour piaf' em uma Orléans estrelada ,
com calma, 's'il vous plait, un pinot noir', na Borgonha saturada,
de uvas, plumas, do cabaret, da noite,
um blues, uma rhumba, para a menina de Mônaco.

terça-feira, 30 de junho de 2009

consolado

Eu encaro os fatos essenciais da vida.
Mas, e se, quando eu vier a morrer, descobrir que não vivi?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Yo Soy María.

“I hate these days of white hazy lights that shyly shine slendering through the clouds
And I hate the stage as much as Night,
Who lies on the soft lawn to tell me she lies, her lies;
But they sound so pure”


Começo aqui a escrever um livro provindo de outro livro provindo doutro livro cujo autor diz que ‘livros não provêm de outros livros’. Começa aqui o penúltimo épico brasileiro. Aqueles livros eu nunca li; estes são os meus dizeres:

Era noite em Buenos Aires. Era a Noite de Buenos Aires que me fazia mal. A Noite vem com tal facilidade crepuscular que parece assediar os vagabundos, os criminosos de adultérios, os recatos, católicos de monastério. Atravessa a Cisplatina pé ante pé como fosse seu quarto (atravessara, de fato, de cama em cama, quarto em quarto; nenhum seu), o corredor, o céu do leste ao oeste, as amarras de um navio e ela o gatuno hábil. Ela era mesmo autora de ladroagens abstratas reconhecida pelos devidos conselhos e ministérios. Por fazer-lo fácil: personagens não se inventa. Personagens não se inventam. Observa-se, ou rouba-se (anotar a observação já é roubar da realidade); empresta de tomado e desenvolve-se em prosa cantada. María de Buenos Aires, então, já existia havia cinquenta anos, porém desde então jaz aos vinte e sete, e nós que discorremos sobre tais tipos somos tão gatunos quanto ela. Perto de Machado ou Saramago, sou só um trombadinha de Ipanema.

ela altura de Porto Alegre num trevo da BR-116 María pedia carona, María vendia carinho. Quem fora Régis Bittencourt Maria não o sabia. María fazia erres de jotas e esses entremeados em palavras quando dizia que ‘le gustaría llegar a San Paulo’, mas María, ah, María se encantara com a vista da descida da Rodovia Anchieta, quem não se encanta afinal quando vê São Vicente tão de longe, mas não sabia que maior ainda seria seu espanto quando visse Santos bem de perto. Nos arredores da Consolação Dr. Haddock Lobo disse à jovencita María que toda aquela Paulista que por ali se estende e separa os pinheiros da sé não se daria ali, se não soprasse o vento marinho serra acima; se não se tivesse feito daquele mangue insular aterro desterro desespero e monotonia, uma Liverpool subtropical. Ali María também vira, oh María(,) vira que era mesmo María Noctem, María pasión fatal, assombrando as graças e espantando as honras de freis e senhoras da boa-venturança. Maria era puta que tinha glamour e daí cunhava o prazer daí dos boas de pluma da saia curta e preta da calcinha de rendas brancas e transparentes das botas frias de colocar dos salto e bico finos que tanto incomodavam até as mentes mais sãs até o senhor mais careca com a camisa de gola e manga curta mais xadrez e a calça mais social mais marrom e mais vincada ostentando o bigode de escovinha desproporcional ao tamanho de sua pança até este arnaldo botelho contador formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo desencostava os lábios um do outro um pouco um tiquinho que fosse quando pela manhã escondia os Classificados da Folha de São Paulo dentro do caderno Mundo depois de entregar o Caderno 2 à filha séria de dezessete anos, séria demais pra quem tem dezessete anos inclusive, e então percorria com os olhos a sessão que todos percorrem só por curiosidade só para encontrar Marina de boca pequena e carnuda pele macia e estatura miúda e que faz tudo com o rabo farto e depois empalidecer suar comprimir de novo, os lábios, cobrava cento e oitenta reais, e largar, o jornal. Abocanhava então a torrada como fosse Marina, carnuda, em gozo. María se deliciava ao deleite dos outros e com o deleite dos outros, mas o seu gozo era só seu. E ela não queria nem saber.

María não era triste nem feliz, não se dizia pela expressão. Levava o rosto um pouco abaixado e o fazia duro, suas sobrancelhas retas; o olhar por baixo por cima, de lado, nunca no eixo e os lábios nas suas ranhuras estavam sempre segurando algo que eu não saberia dizer se era uma palavra indizível um verso tão medonho uma palavra de amor (que acabaria com o seu negócio – uma reflexão do ócio) uma vontade de fumar todavia era somente sua língua de liquidificador.

Até agora falei muito e pouco disse: a partir de agora direi nada e tudo falará por si só; pois foi sem uma palavra precedente que María me olhou diminuiu reduziu à infinita pequenez e fez do meu corpo página em branco, e eu fiz do seu montanha inatingível, como é de costume entre as pessoas da minha idade. Aqui eu passo da onisciência à compreensão da minha ignorância sobre a história imparcial sobre a assentimentalidade sobre seu oposto sobre tudo que não for meu e até o que é meu e eu não conheço.

María de certo era uma mulher daquelas que andavam com uma faca a tiracolo, amarrada na coxa larga embaixo da saia ou na bolsa; agora chamavam-na de Marina, Pois que Maria é nome de santa, dizia, mas quando a descobri puta com nome de santa, bom, só isso mesmo conseguiu me converter à fé cristã. Quando Marina punha o pé na soleira, já era dia, e dava descanso à faca num móvel velho de sala, olhava o decote no espelho, essa era María Rojas, singela, e seu gozo era só seu. María arrancava a indumentária e a parafernália que lhe desconfortavam e agora descalça (nua) sentava num sofá de almofadas rotas, e, trazendo de encontro ao lugar mais frequentado da região um violão, desabava em lamentos espanhóis que seu avô lhe ensinara. María não conseguia largar-se de todo do pesado, do passado. Dançava conforme a música: pela noite ser leve, mudava de nome, esquecia o sotaque, o sobrenome e as roupas; já no dia, pesado, cantava os prados da Argentina e as esquinas de Madrid. Dormia nunca. Eu, de memória curta, enrolado em pesadas cortinas que cheiravam a mofo e àquilo que cheiram as pernas e os peitos de María, sincronizava a minha respiração com os soluços de María enquanto tentava hablar con las luces que disseram que la olvidaría. No olvidé. Jamás.