terça-feira, 23 de março de 2010

vida em sociedade

uma vez
uma vezinha
saí da linha
dei na escada e desenhei de giz alguma coisa na garagem da vizinha;

uma vez uma vizinha
me ofereceu bolo de giz na garagem da betinha

uma vez, duas vizinhas

outra vez, outra vizinha me deu bolo de garagem de vizinha. amén.

sábado, 20 de março de 2010

dentro de nós já há tanta coisa coisa que eu nem sei mais contar;
tanta víscera, tanto medo, tanto desejo e tanto altar

tanto quanto tanto muito tanto tinto tanto porto, tanto mar.

sexta-feira, 19 de março de 2010

estudos de haikai sobre édipo, I.

tranco a porta;
um olhar de relance
rasgo teu ventre.

penetra
cordão umbilical.

cheiro de suor
abraço depois do colégio
lábio úmido, boca aberta

lambo teu gozo
sorvo teu leite
regozijo.

me deito em teus seios
nos teus seios me deito
sonho; ronco.

lençóis sujos
sofá de casa
lava

o lábio me fere -
um beijinho de tchau e choro
-um beijo de tchau e choras.

parado

assim aqui no meio de tudo
eu sou um eixo magistral
um enorme pólo de referência
um apoio
um imã para agulhas de bússola e desgraças alheias.

pra onde vou sentado

sentado e só, vou à todo lado, a nado, anágua, na água, no mar

...anália me pôs sentado e foi-se embora...

anália nunca mais volta...

eu fico sentado aqui, meio andando meio parado, E como se move;
cambalhotas.

de pé

de pé no ônibus
seguro firme a barra
de metal
olho pro cemitério
tão bonito
tão vazio
de pé no frio
parado cortando vento

de pé no canteiro central da avenida central na região do centro
imobilíssimo
centro imóvel
um imóvel no centro
não o mobiliarei com sofá algum
assisto tv de pé

sentar

faz vinte anos que eu me sento
e espero feito um vladimir a sorte chegar
faz vinte anos que eu me sento nesse cubículo de escritório
na fila do inss
no setor de contas à pagar.

faz vinte anos que eu estou sentado no meu palio fire
esperando o trânsito desafogar. meu terno já está bem fora de moda.

quarta-feira, 10 de março de 2010

amargar (la mer)

sente a textura do sal roçando entre as polpas dos dedos
tempera a carne


o sal entra na ferida, séca e arde, mas séca, sêca a ferida, amarga (de amargar) e cura

logo que acorda, quando os nervos estão ainda sensíveis,
sente a textura do sal por entre os dedos, entre as palmas, entre nós, no mar

entre a ferida e a água do mar
entre o vento e o mar
o diálogo do vento
e do mar

em mil novecentos e noventa a resolução wha43.2 da assembleia mundial da saúde aprovou o objetivo de eliminar a idd como problema de saúde pública. em mil novecentos e noventa e três a oms o unicef o conselho internacional para o controle das perturbações causadas pela carência de iodo recomendaram a utilização universal de sal marinho iodado como principal estratégia para se conseguir a eleminação das idd. o sal marinho é extraído, no brasil, principalmente das regiões do rio grande do norte e paraíba.

terça-feira, 9 de março de 2010

andei por aí
enxerguei e desisti
procurei bambu
fui andar no matagal de santo joão pra procurar bambu;
não achei

uma faquinha pra cortar bambu, não achei, uma pequena flautinha, nem queria

quarta-feira, 3 de março de 2010

tsuki e momiji, estudos de haiku

aqui tanto vim
me era esperado
nada encontrei

que aconteceu
indaga a adaga
cortei-me só