segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

pequena história da música

schönberg entrou num bar e pediu uma tônica

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ballet nô-gagaku

entra homem de branco; dança alegre.

cena I - homem de branco encontra pétala de flor.

cena II - homem de branco come pétala de flor.

cena III - a moça desce a torre e vem ao encontro do homem de branco; homem de branco some.

Ato segundo:

cena única: petruchka morre: a dança do adeus, totentanz.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ofício do registro civil das pessoas naturais de santos

Quando nasci, logo puseram-me em papel;
quando morrer, me porão também.

e nós poetas que fazemos? ninguém nasce aqui, a poesia, uns dizem, é até morta

Quando nasci, logo virei algo que podia ser empoeirado, ainda mais considerando que sou pessoa natural de Santos, lugar que trás poeira fácil nos ventinhos. As traças comem minha existência, eu guardo meu ser numa pastinha amarela que quando preciso, nunca acho.

a gente só gosta é de brincar de lego com as palavras no porão
que me porão em morte e me puseram em vida abaixo do solo, escuro, defunto, cheio de blocos nos por-voltas, um túnel de metrô, um emissário submarino, cheio de lama e peixe. um manguezal.

O cidadão, ao atingir dezoito anos, torna-se útil para a sociedade.

Quando eu nasci, não era útil, não fazia nada. Quando nasci puseram-me logo em papel, pra evitar que eu fugisse ou virasse abstração.

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chora, chora, chora, pára. era só olhar o bebê que tudo o mais dissolvia. o bebê não tinha contorno e nasceu bem em cima da divisa.



aos nove anos, faminto, finalmente dignificaram-lhe um nome: jean valjean (nem precisava).