terça-feira, 29 de setembro de 2009

Construí uma pequena vila com grãos de gergelim

do sésamo que brota da mais bonita plantinha de jardim
eu construí uma casa, e outras também
além daquelas que já existiam;
mas aí (eis que, então) veio um passarinho, bicou tudo e comeu.

(esse poema dá pra ficar bem maior e melhor, quando passar a preguiça)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

La Muerte!

Um tango de pernas para o ar.
Um clima quente, asfixiante.
E a balada dos casais que se tocam, soam, suam, saem
da roda, fora de moda, a troca sem palavras
e as carícias sem consequências amargas.
O tango é um pensamento triste que se pode dançar.

Mas os doces e leves beijos pairam.
O espetáculo dura enquanto o romanzae durar.
A balada se encerra e dou-lhe o último olhar.
resta uma voz que me chama, quase um suspiro.

domingo, 27 de setembro de 2009

o céu do galego

-eu conheço todas as estrelas que refletem nestes mares que não mais verdes são.
e elas também me conhecem. não me diga que não.
me sabem pelo nome do meio e apelido. manuel dos santos. até nisto estou lá pra cima.
minhas próprias costas se incomodam com cada edifício gigantesco que erguem agora por esta ilha toda. estirpam de vez em vez mais um pouquinho de firmamento. como fosse uma acupuntura perversa. muitos deles que os erguem também são portugueses, como sou. portugueses cujas padarias deram certo. lho digo, o céu está ferido e até ontem sangrava; hoje já é tão limpo e azul que capaz de um jaó quo atravesse correndo vindo lá do altiplano. capaz do macuco ressurgir da bacia que lho homenageia e se erguer no mais vistoso azul. voa macuco.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um oi pro Saramago:

Este sim, o penúltimo épico brasileiro, redigido pela minha mão destra e aqui transcrito a 7(sete) dedos; disseram-me que aqui eu ia ser grande, sendo pequeno, pois eu ia ser grandinho, agora posso escrever grandão. Segue-se:

-ali estava eu, sentado, a brisa já machucava a minha papada e, oras, a chuva chovia em quarenta e cinco graus de inclinação! (medidos com desetec) era como uma arquitetura de chuva, de nuvem e de chão, só que o chão era feio e o céu, rosa de fumaça, rosa-dos-ventos, também; tudo no meio disso era então o mais livre vão que poderia se arquitetar (vide o testamento de lina bo). O foakeanismo então tornara-se natural e entrava assim no mundo das idéias que não existem, que não existe, todo vestido de casaca, todo burguês, ouvindo villa-lobos no talo e achando bonito, pra vizinhança toda ouvir. Logo, se vê, ainda eu grunho, mas com tanta pompa que nem dá nas vistas.

-diz-me então, seu português, como faço para fazer-lhe calar essa boca? pastéis de sta. clara lhe ajudariam? mas que inferno de velho que não para de balançar esse papo de peru que se dependura de seu queixo, que só não é mais machucado pela chuva que chove em quarenta e cinco graus medidos com desetec por causa dessa boina príncipe-de-gales que o galego atochou na cabeça, esta porra dessa papada que parece um potão enorme de geléia mole defenestrada. Ai, que melhor seria se estivessemos lá em Santarém, na tua terrinha, onde cantam as lavadeiras pelo rio as antigas canções do portugal, mas, ah, no hai mais flor, do verde pinho.

uma puta caixa cheia de canetas

todas iguais.
Pretas tal qual a noite, mas a noite é azul, eu espanto o dia com água fria, com gelo e então eu escrevo muito mais.

A noite é mesmo meio rosa, depois de tanta fumaça, desgraça...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

1(um) ano de FÔ

O espectador

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma observação que fizeste

Disseste sem pensar, é provável
Ainda assim, virei o pescoço
Mas tão bruscamente que estalou;
Doeu pra cacete, então pus gelo

E depois então fiz este soneto.
Enchendo os versos com palavrório
Para poder-lhe chamar de soneto
mas das rimas eu esqueci.

Friend shooter

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

rascunhos (de verdade!)

meu avesso é mais visível do que um poste
-aceso
-no meio da calçada estreita que ladeia o cemitério da consolação, triste e bonito.

mas e daí?

serei o que hoje? serei um moço e uma, duas moças
que vomitam entranhas eléctricas

um moço que assiste, pálido e apático, de olhar distante, de terno e gravata pretos, camisa branca, gravata um pouco folgada e chapéu, boina ou côco.

uma moça recatada, católica, colegial, já descrita antes

e a puta.

monólogo final de uma peça que começou pelo fim (monólogo do pedro)

narra-se: perguntado se não tinha fibra ou víscera que fosse diante da puta e da moça que a sua frente vomitavam lexicamente, ainda que não de todo tristes, desabou o pequeno homem loiro:

-não entendo mais como pode ainda essa minha face corar; a minha fibra e vísceras eu pensava tê-las vomitado secas tal qual areia arando minha garganta em baldes potes bacias e tigelas ante as putas, somente entre as tuas, que me se davam a ouvir que era só isso que me fodia mesmo fazia dos pensamentos putas e destas consolo e seus consolos elas que os enfiem onde não me afete. S.Paulo me cafetinou fez-me puta de mim mesmo, faz-me vestir este terno cinza e deixa meu olhos cinza e fiz-me surpreender quando meu rosto enrubeceu, ainda assim, não sou humano, sou uma peça minimalista; de intervenção artística e protesto ou como o MASP, ao estilo de Bo Bardi. Eu só me faço humano quando, expondo meus pentelhos ao vento (que não são loiros como meus cabelos, mas pretos) me acabo em punheta na minha singela homenagem às moças colegiais do rio branco, do sion, do colégio s. luís, e, nos dias de chuva, até as do mackenzie.

E me compadeço, com as putas.

testamento de lina bo bardi

eu só achava s.paulo cinza porque nunca havia me apaixonado por uma paulistana

-essa de agora, quando anda pelas pedrinhas, me faz perceber as cores com a sua horrível mania de só chutar os pequenos minerais vermelhos.

p.s: quanto a atriz, ela merece melhores poemas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Caiman crocodylus yacare

jácaré não tem tomada, jacaré não é tomada, jacaré não sabe tomada, jacaré não sobe em tomada, jacaré não come tomada, jacaré é a puta que lhe pariu, amigô.

Caiman crocodylus yacare

jácaré não tem tomada, jacaré não é tomada, jacaré não sabe tomada, jacaré é a puta que lhe pariu, amigô.

poema da estafa

está fadado ao cansaço aquele que trabalha
ou quem acorda cedo com o fim de ir passear

esta fada do cansaço abençoa a todos
com o mais profundo pesar diante de uma cadeira acolchoada

és tán bruto!
pero aún así, prefiero morrir antes que nanar sin oir a miles davis o ginastera!

(pero aínda así, eu preferiría morrer a durmir sen escoitar Miles Davis ou Ginastera!)

sábado, 12 de setembro de 2009

pra não sentir saudade

E hoje o mameluco virou moçada,
queimando a cana pra melar na praia
vestido de tanga das cores da bandeira,
e a terra molhada e bem passada já não abriga palmeira.
Em casa, periquitar e no trabalho, assobiá.
E o suor do couro de canhem babá é
zumzum caboclo que sopra na fumaça,
da arte da bola, da serra morena,
nossa cachaça.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

logo, morrerei
sob o signo claro do luar
sob o signo desgastado de um boteco qualquer
e aqui o bar poderia ter rimado (mas não)
luminoso.

minhas últimas palavras? cu, pra quebrar essa aura mística e rebeldezinha metida da poesia e deixá-la feia, que nem o que quer que for real. feio pra caralho.

poema dos músicos

a poesia dos músicos
toda cabe num pizzicato de ravel

e quem disse que nós precisamos de poesia?
nós a temos em nós mesmos como fosse o ar, inexplicável por ser expelido
nós somos a poesia abstrata mais concreta que há
poeminha sem palavras que somos
nós, a poesia dos músicos

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Com vocês ao amazonas

Este que vê, engano colorido,
que, da obra-prima exibindo os primores,
com falsos silogismos de cores
o cauteloso engano do sentido;

este, em quem a lisonja pretendeu
desculpar dos anos os horrores,
e vencendo do tempo os rigores
triunfar da velhice que o esqueceu,

é um fantasioso feito do cuidado,
é uma flor ao vento, delicada,
é um respeito inútil ao fado:
é bop, é bit, hun pá, camará

é um cansaço caduco e, bem visto,
é cadáver, é pó, é sombra, é nada.

é festa da cumeeira.
é o fim da canseira.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

fresta de céu

Há uma frestinha no céu
por onde a galinha pode voar
pode passar, meio d'esguelha
por aquela nesga de luar
sem botar os pé no chão;

por lá é que ela vai na tempestade.

havia no galinheiro a mais tranqüila paz que se há na intempérie. ao som do próximo trovão, a galinha branca que ciscava levantou a cabeça como fosse heroína de filme fitou de soslaio a ranhura nas nuvens do firmamento e, pé ante pé, batera a asa, e de novo, e mais outra vez vagarosamente, pulou e voou, sumiu, mergulhou nos estratos mais exteriores deste planeta. vigiando a cena, disse o galo: deixou só a pena.

e todos voltaram ao cisco.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

a nova primavera do foakeanismo

na nova primavera do foakeanismo tropical, chove-se desesperadamente. lá, entre jardins de ervas e mato e flores de cores de almodóvar, o felix se chama felix mesmo. lá, só lá. o lugar dele, é lá - lá tem caipirinha de graça.

amanhã há de se chover desesperadamente

me embolarei em casacos de lã sintética, lerei a dilética (e tal tal)
e deixarei que chovam as folhas sobre esta grande cabeça
esta jaca que habita o meu ser
o fardo de cérebro que eu carrego pra lá e pra cá
e deixo que se revista de cabelo
e lã sintética;

de s.paulo não se vê o pôr-do-sol

só se sente o abafo
nas costas e no rosto
e na pele o desgosto
cuspido pelos carros

só se vê as putas e os coitados
na avenida mais rica do país; adianta?

se olhares ao horizonte, não o enxergará,
e ainda talvez tropece num buraco, uns pedaços de calçada, quebrados,
desgaste, sei lá
se não toma cuidado.

a atriz merece melhores poemas

sem tantos dilemas
com mais ardor
com mais odes à seus cabelos tão negros
com mais elogios à sua profissão
com mais tudo;

e é tanto mais, que eu nem sei dizer.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

a nova primavera do foakeanismo (rascunho)

sopra um ventinho bom que não é noroeste
noroeste é só no verão
noroeste é só lá em santos

o sol queima minha roupa pesada através dessa nuvem nojenta de carbono
na cidade de são paulo

pequeno monólogo da moça recatada

Se eu durmo com ele mamãe me aporrinha eu sou violada profanada aberta comum (como fico?) pós-moderna tranqüila levo nos pares de lábios sorriso e nos olhos satisfação de travesseiro.

por este próximo parágrafo, a voz vai fraquejando gradualmente, até um 'veludo' quebradiço

Se eu não dou não caso mas caso de branco de véu e grinalda e longa uso a saia; eu tenho vergonha e aperto no peito remorso fechada intocada fazendo fachada de intocada emagreço de ruim e brinco no chuveiro trancada no banheiro com o sabonete receosa meio escondida na espuma o riso vai nos olhos e na boca conforto feliz e católico que um lábio senta no outro como fossem sofás e futton de veludo...

[A atriz se veste de saia ou vestido sem decote ou apelo sexual que não seja aquele falso inocente das meninas da igreja que mal-disfarçam a lascívia carnuda perversa só mesmo no mundo dela trás-as-córneas e cristalinos...]

pausa. a moça se olha no espelho com culpa. a voz é mais decidida agora, porém é voz de sofrimento vão e fútil.

...visto a calcinha e me deito. Sinto o cheiro da vida mas não a toco, e quando eu não alcanço, o desespero é tamanho, a dor é tão grande, as pernas resistem às investidas de minha própria mão, logo vejo que fácil resolve e dissolve o dilema, não entre dedos, entrelinhas, somente entre as minhas.

lamento antigo

Morena, eu tenho saudade de ti
De coisa alguma
Que nunca aconteceu
Saudade do teu peito, no abraço,
Encontrando com o meu.

Morena, meus pulmões são de pedra
De tanta fumaça, tragada de graça,
Num respiro súbito tua cor inalei;
Pulmões de granito
Que servem de taça
A um coração sem lei.

Tenho saudade derramada em luso lirismo
De um beijo roubado com desculpas fingidas
De tocar os lábios, ainda as pálpebras despidas,
Vergonha de chorar como chora um português

morena
Ferreira-português chora
com a taça de Porto na mão.

morena
tens cor de tawny
que eu pinto com tinta de sangue e ametista
pra entornar-te toda dum gole só

morena, da terra brotaste tu
pra me fazer contraste
encosta teu seio na muralha
todo pelo teu corpo nu

Uniformemente Vaivirado

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Serei tudo o que disserem
Por inveja ou negação
Cabeçudo dromedário
Fogueira de exibição

Teorema corolário
Poema de cagalhão
Lãzudo publicitário
Malabarista cabrão
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Serei tudo o que quiserem:
Poeteiro castrado, não!