quinta-feira, 29 de abril de 2010

já eu, nunca li clarisse (expurgo)

tanto que nem sei escrever o nome dela direito.

mas já dei vários de seus livros de presente, com dedicatórias afetuosas e algumas afetadas...

cadê a poesia do interior deste país que eu ainda não achei?
nessa gente dura e desconfiada
que silencia em resposta
não consigo achar, não sei onde tem...

não é no matagal
não é na linha de trem, nem é na desorganização irritante das linhas rodoviárias urbanas.

não achei poesia nos grandes parques ou avenidas.

não achei poesia na destruição da antiga rodoviária.

não achei nada.

não achei música

não achei poesia

não tem nada.

só que, vi olhos verde-água.

domingo, 4 de abril de 2010

o amor e o transporte público

apita a sirene, plataforma de estação
e entra no metropolitano paulista a portadora de gigantes olhos verdes que me lembram até do mar enorme da minha cidade natal;

de pé, segurando a barra de metal, eu aqui sentado na cadeira reservada a idosos e gestantes, fixo nessas órbitas o pequeno astro que habito, no reflexo da janelinha entreaberta (o trem ainda é dos mais antigos) eu me perco naquela luz, ela se veste mais ou menos bem e me dá as costas, por um momentinho ali, ela também me olhava no reflexo, mas não, só via se o trem ia pra lá ou pra cá, de que lado da estação ia descer.

moça, estico o braço, quer sentar, não obrigada, já vou descer, desceu, e eu ali, indo pro terminal, amei por uma eternidade, me aliviei da dor, me dei morno, deesci do trem, me doeu muito, fiquei mal, na fossa, recuperei e estou aí de novo, pronto pra me apaixonar pela moça que comprou o bilhete da ponte rodoviária logo antes de mim, mas aí não tinha mais poltrona do ladinho dela, e aí de novo eu fui. tudo amor em pequena escala, de escala em parada, dormir acordar, amor em miniatura, em transporte coletivo pago pelo icms recolhido pelo governo do estado de são paulo. cada vez mió.

(esse assunto ainda merece observações mais estruturadas...)