segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eis-me aqui, o parnasianismo.

Jacutinga, tens rubro o pescoço
E acompanha com teus laterais
olhos a crescência dos palmiteiros
Cujos frutos comes o ano inteiro

Jacutinga avua e pousa no moço
Pesa seus músculos intravertebrais
Jacutinga quando eu sou parnasiano
Sou como um elefante mastigando um canteiro

Ai jacu avua.
Vai jacutinga, faz ninho na bromélia
Chama a planta de boléia
e choca.
Jacutinga sumiu.

(onirismo) -eu acordei tocando ravel

eu acordei, mas cotinuei deitado, olhava o teto, enrolado;
eu acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
eu acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, mas continuei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, mas fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, e fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei, abri os olhos, deitei-me no teto, enrolado;
acordei, fiquei deitado, olhava ao teto, enrolado;
acordei, fiquei deitado, olhava o teto, enrolado;
acordei ACOREI!

Mamãe, não quero mais ser indie

Falaremos então da jacutinga, do macuco e dos marrecos, versando paranasianamente, assim que o sol raiar.

(onirismo) - eu dormirei tocando Villa-Lobos

dentre os maxixes e os choros
eu descansarei contente
a cabeça no canto do violão
adoçado com a garrafa d'aguardente

sábado, 25 de julho de 2009

(onirismo) -eu acordei tocando strauss

johann II, senhor, e foi reconfortante,
vinho, mulheres, canção, o danúbio já poluído
e um poema sinfônico em construção;
e fui gravado, para provar tal fenómeno,
mas vendi a fita pro telemarketing.
ou para a quinceañera de alguma moça.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

(onirismo) -eu acordei tocando beethoven

doutor, e foi tão estranho
as notas, legatos, ostinatos, sapatos, dançando
sonata, patética, a fuga, piano
eu sabia, mas não, não ainda
então, acabou.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Prazer, privilégio

E você me leva à noite sem estar aqui.
No seu leito, na minha casa, onde tudo é seu e os meus eus não são mais bem-vindos.
Um dedo que puxa o elástico de seu sutiã, e larga,
Condena a pele como o vestígio de minha palma sobre sua nádega.
Vibrante.
Acordo sozinho, uma forma crônica de depressão.
Acordo sozinho pois sou alguém a ser evitado.

à todos,
à todos meus amigos,
o afogado de bebida de olhos cheios
o alaga de aflição amanhã.
E não quero mais regressar à casa; passar meus dias nos sonhos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

-muito.

São pequenas fotos de sons de chantily que as encantam, naquele simbolismo leve e fora de contexto. Já o silêncio na parede branca pode ser cortado com uma faca, mas é cortado como fosse manteiga, fácil, viscoso, mas manteiga batida em casa, num pilão ou coisa assim, coisa cujo nome eu já não sei por ter nascido na cidade, ter morado sempre na cidade, ser neto e bisneto de cidadãos, não há como saber. Não que eu preferisse ser bucólico, vê lá se eu tenho cara de alberto caeiro por acaso, o meu rebanho só banha minhas banha, isso sim, vá lá manuel.

bom, a parede branca; era daqueles brancos-gelo, branco morto, mal-pintado por algum faz-tudo, o que cobrasse mais barato. o sol já baixava mas o céu ainda não era amarelo, e as nuvens eram só algumas; o sol porém grande apolo era empecilhado por um prédio de arquitetura duvidosa. pois então que via-se nas paredes as manchas e imperfeições, ainda que fosse uma parede limpa, salva de encostões ou encontrões ou até mesmo camiões, nunca se sabe nos dias de hoje, este trânsito maluco né? pois que estavam as duas sentadas num sofá uma no meio outra no canto de cá quando esta disse, e esta era morena dos olhos verdes com o cabelo preso num arco roxo expondo a testa arredondada e curta e leitosa, pois que esta disse, que valham os lusos que fazem com esta cidade, pois dão-na espaço para hipermercados de todas as possíveis redes da américa do norte, mas que merda fazem, pois que façam, impeçam-me o sol ou a luz da lua direi-te que farei, pois que diga, pois que nada sentarei no sofá farei ovos mexidos, gostas?

terça-feira, 21 de julho de 2009

.

Não quero palavrório grandioso para um idéia pequena.
Quanta baboseira imprestável!
Eu a amo e isto é o fim.

domingo, 19 de julho de 2009

Cada palmeira na estrada tem uma moça recostada

ó mar salgado
muito do teu sal
é lágrima de portugal

e agora não há mais água que mate a sede
e por quererem vós conquistar todo este mar
salgaram-no como o fazem com o bacalhau;

mas não durou, pois o Tejo abocanha o atlântico
e vem até
e vem pra cá,
faz cócegas nos meus pés,
aqui na terra onde Brás Cubas arrastou os saltos
e, segundo diz a lenda,
Brás Cubas nunca havia tirado os sapatos altos
até se encuriosar com a textura dessa areia;
areia hoje suja de petróleo, da qual me protegem as meias.

Valeu a pena conquistar o mar?
A alma brasileira de certo não é pequena.

-e pensar que o mar já foi doce.

---

II.Bahia

Cada palmeira da estrada
tem uma moça recostada
cada frase roubada
, um escrúpulo explicado pela madrugada

Em cada estrada de palmeiras
Um caminho à Bahia
Cada sentença aplicada
um dia, dois dia, três dia

Cada rima, um desperdício
Cada soluço, um armistício
Cada letra, um reinicídio
of those who reign within

---

III. Of those who reign within

A conspiracy for each of us
and for all who have waited in vain
Unite, lonely wankers, love-shy debauchers
Kill the king
govern yourselves
arrest your dames
then cry.

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IV. Cabral

Aqui deixaste o teu padrão, também
E por te dizerem fraco diante da tempestade
Nunca mais fostes mar-além
como quem diz, ai de mim, ai que sou
morreste em Santarém

Pero dizes, ai da terra e ai do chão
no qual pisarei, pois hai de ser em vão
E te digo, não, pois Pero fizestes
das chegadas a mais importante
Mandaste às quinas lembranças do porvir
Levaste o pau em brasa
construíste minha casa
e daqui não hei de partir.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

pelo amor de deus, o carnaval

vai pra baixo minha gente
quando passa um, passa dois passa contente
tropeça num paralelepípedo, cai de boca, cai o dente
AGORA TODO MUNDO

-AH MEU DEUS! Minha zebra pegou fogo! fogo! fogooooo!
mas; -AH MEU DEUS! Minha zebra pegou fogo! fogo! fogooooo!

fogo!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Eclipse

Um tigre e um dragão vindos do cataio hão de comer o sol se não lhes devolverem a lua, que faz noite às três da tarde e manda o macuco e a jacutinga, confusos, já pra toca antes do jantar. Que se há de fazer então para que vá embora, a não ser chamar os trovadores e menestréis, tocar tímpanos e panelas pro luar? mas o menestrel e o trovador, eles não julgam ninguém, não; sorriem por poderem tocar, e quando cantam, não é por si mesmo, mas pelo que observa; o trovador não te diz fingido, só diz que ainda que fosse, teria valido a pena.

O luar é espelho do Cataio.
O tigre quer Selene-deusa e não musa de volta, chama do cris de lua e não vem.

sympathy.

Eu já nasci de coração que sente forte
Mas fui feito assim de tato fraco
Por aquele que me tomou no escuro (que era escuro como o cris da lua de cascudo)
a poesia d'eu escrever

Pois eu já senti tristeza, pois sim,
E então, fingi que não sentia;
O coração, lugar-comum nas rimas,
e o meu é forte quando bate,
Chegada a hora vira forte que ninguém empura (ou já não existe mais)

sobre a estética do fingir.

Eu finjo porque a vida não me toca.
Fingir é um golpe desferido na bochecha da cordialidade
Um tapa que se dá no vazio pra ver se atinge Clio, de quem tanto se ouve
ver se ela acorda, se ela liga, se ela existe;

E se golpeia com um sorriso de canto de boca
Por não querer acreditar que o mundo seja uma ilha cercada por jardim e porto
incrustrada de fontes dos sapos
Tão parado, tudo morto.

Eu finjo pra espantar o frio.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

na esquina

Eu acredito no trovador deste cunhal que canta dos bens a vir.
Ele então pede um trocado e eu lhe dou todo meu dinherio amassado,
porque o bem está mal e o trovador ri com sua cara-de-pau.
Ele então canta com alegria e harmonia, de sorte com o montante,
que eu sou nada além de um fingidor, de modo geral,
sentimental, arrogante.
Eu o olho de baixo para cima e acho sua barba de brancura da prata,
mal-lavada, que reflete o meu rosto, sem sal, sem gosto,
e vejo nos meus olhos a felicidade de tempos atrás,
quando tudo era modesto e eu um rapaz,
e eu não precisava me afogar neste troar.

Eu não finjo.

sábado, 11 de julho de 2009

sobre a língua portuguesa

é esta a língua dos poetas, a última flor do lácio, a mais bela e mais selvagem;
e quando o malandro de fala suave te proclama, diz Noel, és brasileira que dá samba.
Você é morada dos poetas pois estes moram na madrugada que é só tua, que serve como uma habitação tão escura que o teto não se enxerga, e cujas camas são pontes e postes de concreto largados e traçados pelas cidades do país. Dás aos que dormem pontes e postes, e aos que comem, dás saudade como pão, salada; obriga-os, porém, ao vegetarianismo, pois se abusam das carnes quentes logo morrem ou se perdem.

I - da Madrugada;

Não é mais escura como o breu: a poluição te deixa cheia das nuvens rosadas, e há tempos não há estrela que pouse a luz sobre este cais que agora corre da escuridão e de Martins Fontes com suas lâmpadas fluorescentes, com seus velhos aposentados e socialites de nome sujo na praça, protestado em cartório; me rio dos bingos e cinemas fechados, dados às baratas e aos mendigos que tanto nos orgulhamos de não existirem -só prova que o IBGE é tão cego quanto nós.

II - da Saudade;

Desta eu já não sei, não a sinto, apático que sou como deveria ser. só sei que dela chegou-se de terno gravata e piano, de sola do pé pisando no chão molhado pelo pranto de alguém que sonhou um dia em poder fugir da monotonia. Santos em prosa é uma música parada, de voz sussurrada, como se João Gilberto fosse querer alguma coisa com esse pedaço de ilha; mas aqui dá eco.

baião

fazer da vida o que acontece
na viagem no agreste
comum que era teu como um que era teu escravo desleixado
um homem pouco borracho
um outro com voz de escracho
dizendo que era dele o que era teu que era meu que era ateu
um homem chapéu de palha
um homem vestindo saia
um homem que era bossa, que era tango del arrabal
porto alegre são paulo em santos em sua baía, menina
te quero como que era como quero como o que eros fazia contigo, menina, me nina
menina

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ana

sempre tem dessas que dizem uns ais
dizem que dizem que dizem uns ais
sempre tem desses que ditam, que ficam, que lutam, que puxam
-até amanhã!
És Ana, Mariana, tens banda tens luta, tens sangue ou amor
- és Ana!

Por seres Ana, tens chama, me chama, me canta na rua na tua
sem maquiagem, estás nua; és Ana.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

E se,

Já sentiu um coração amargo, que dói, que soluça ao devaneio.
Já sentiu um empecilho, que o obstrui, o desvia ao vazio.
O vazio de estar, o devaneio do ser.
O amor.
A leveza que com amor fica obesa,
O terno do amor agridoce,
O amor em toda sua carência,
Se toda carência pura fosse.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sobre noites e dias

Eu levito,
numa valsa desgastada de uma Paris gelada,
num 'concert pour piaf' em uma Orléans estrelada ,
com calma, 's'il vous plait, un pinot noir', na Borgonha saturada,
de uvas, plumas, do cabaret, da noite,
um blues, uma rhumba, para a menina de Mônaco.