sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aprendizes de burguês

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ensaio sobre a reticência

Pode chorar sobre o que quiser que o mundo não vai parar de cair, se é que cai
Sobre potes e vasos janelas e panos já molhados.
Sobre os espaços vazios de uma trincheira, não adianta chorar que a terra absorve, chupa a água como faz a moringa recém-estreada, a trincheira se alimenta do teu sal e da água que deixas que caia, só vai lhe dar mais sede, e então começa a embolar palavras, e mal-conjuga os verbos como eu, eles não concordam mais...

...e tem gente que ainda escreve cartas...

Ensaio sobre a reticência

...as reticências exprimem certa conformação de quem diz, deixa que passe, deixa passar...
...trazem em si paz melancólica de quem é paciente tal qual um chinês.

Ao contrário de si mesma, a reticência representa o velho que eu pareço andando por aí com este guarda-chuva por bengala, sob um céu que chove-não-molha... apesar de deixarem ao infinito, como o jovem pensa que vai, logo morrerão?

Não, pois só se morre jovem; quando velho, morrer é a vida. Velhos tendem ao infinito.

Somos peidos.

A gente se ilude que é Rock and Roll mas, no fundo, estamos jogando dominó na pracinha. Nascemos assim, surfistas do vácuo, sem charme nem brilho, espremidos.
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Taparemos o sol do sofrimento com a peneira da felicidade?
-Impossível, porra.
Mas a ilusão às vezes faz bem...
-Não é possível, porra.
Então devemos crer que viver é sofrer?
-Não é possível, porra.
Mas se nada disso é viável, a morte então é a única saída.
-Não é possivel, porra.
Tô confuso pra caralho, mestre.
-Agora, tudo é possível!
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Sem um épico e com uma revolução a fazer por minuto, perdemos as estribeiras e a estética, e junto foi o senso do ridículo pro beleléu. Somos bibelôs daquele velho museu de novidades que o Cazuza vislumbrou quando levava uma piroca no rabo. Espremidos em lugar nenhum.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

me apresento aqui, pra todo mundo ver

Com nossa honestidade vagabunda. Com nossa santidade amaldiçoada. Com o nosso firme e desprezível propósito de não chegar a lugar nenhum. Nós que não acreditamos em nada, com nossos despertadores quebrados, nós que não queremos ser notícia, nós que não merecemos crédito e não entramos na corrida dos ratos. Nós que alimentamos nossas panças precoces e proeminentes. Vamos queimar em algum sol de alguma praia vagabunda. Nós e nossas ereções secretas e silenciosas. Estamos a procura de uma nova identidade.

O merda no banco é o Tom Hanks porra.

O mininu que viu um cu

o poeta está morto.

Leve de mim meu mundo de contos,
de egoísmo acomodado,
minha presença inconstante,
meu rosto amarrado e meu grandioso fardo de esforços guardados,
meu amor definido, complicado.
Dê-me angústias e poemas irrisórios [como tal]
Na brisa uma canção fala em você, mas
Tolos hão de merecer nada menos,
perceber que nada há de ser melhor do que ao seu lado.
e rir meu riso e derramar meu pranto.
Leve de mim, amor.
Leve de mim, amiga.

e não resistir a todo encanto
que existe, assiste, [..]

Leve de mim meus dias,
leve as gotas do rapaz.
leve, de mim, nem alma.
e não volte mais.

[para não ouvir meus ais]

domingo, 25 de outubro de 2009

d. inês de castro (episódio lírico da obra)

leve inês longe à castela, donde hai tantos pinhos e serras que pedro não ousaria cortar-se por tão medíocre moça. mas pedro brada, estai louco por tua fidalguia, tens nas orelhas os cochichos maltrapilhos del-rey de espanha, doutros que aqui habitam talvez, que lhe valem mais que teu filho? eis me aqui, já todo sangrando e tu não o vês?

Infante Pedro, que outrora seria príncipe da beira, manda-a vir de albuquerque agora que mataste constança de desgosto, e vá, casa, esbofeteia El-Rei com luva de cetim; e agora, vindos d'Oporto e abençoada por R. Sta. Isabel e Sta. Clara, assassina-se inês de castro, evitemos aqui frases muito conhecidas, tendo o mondego por testemunha de tal ato, mas o rio fingiu que não viu, disfarçou e fez que estava manchado de molho, só isso.

Eu, D. Pedro I, oitavo rei de Portugal, aniversariando um dia antes do autor deste texto, sangrei e fui drenado. Que sejam tomados de seus corações os cães a que se chama de diogo, álvaro e pero! ao menos não tereis vós que viver sombriamente como os céus me obrigam, eu, Rei de Portugal, tão frutífera terra, assisto as traças e vermes que me devoram e na minha barba têm seu ninho, e assim me sentiria bem, se pudesse sentir o que fosse; como estou, sou mais como inês; dona rainha inês de portugal, a galega, a rainha morta - e o seu rei que jaz sobre as próprias pernas.

sábado, 24 de outubro de 2009

a nova primavera do foakeanismo é um terramoto de cair o carmo e a trindade.

a nova primavera do foakeanismo são um solstício e um equinócio, juntando num dia só 27 horas das mais longas corridas.
a nova primavera do foakeanismo cruzou desde o além-mar à santos, florindo pela primeira vez todo o atlântico de jacarandá-da-bahia, mimoso e de ipê-amarelo.
a nova primavera do foakeanismo é quase noveau riche, quase low profile, quase tanzendunkel, quase poliglota, quase troglodita, quase alguma-coisa.
a nova primavera do foakeanismo é quase prelúdio e fuga em mi menor.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

tretas

Meu livro tá finalmente saindo do papel, ou para o papel.
[...]noite de autógrafos com champanhe e camarão empanado, bem!
[dica: não coma o camarão, não confio no chef..
mas pode comer o queijo, sabe como é, não é o chef que faz, espero..]
Com o alarde criado pelo tópico polêmico do meu livro,
vamos ter uma mesa redonda de simpósio cheia de nhém-nhém-nhém.
Líderes religiosos, negros e hispânicos, mulheres e anões,
todos rugindo e eu cofiando minha barbicha, e rindo, porque
vendar choramingos de fraqueza...é para fracos.
porque bois não choram.
{bzzbzz}
peraí.. tá me falando que boys quer dizer...
mas ele me disse que....
chama o luquinha que eu acabei de descobrir o que é aquela larica
que ele tem depois da aula de inglês.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

loirinha nº 3 (bêbado solar)

teu cabelo tem cor do sol
é como as luzes do túnel waldemar leão:
ofuscam-me até a alma
paralisam meu pensamento depois de um dia todo frouxo
mas mesmo com os olhos cansados, eu quero me inebriar de luz
sorver cada ultravioletência que me atinja
eu quero mesmo me inebriar de luz
sair trôpego pelas calçadas do jabaquara
cair no chão lá na encruzilhada e dar risada;
enxergar no poste só um branco leitoso.

me embebedar de ti;
entornar-te toda dum gole só.

loirinha nº 2 (petite fleur)

o teu segundo nome diz-te pequena; mas não diz como é infinita tua pequenice, nem que nela cabem todas as outras flores:

as jasmins, rosas, margaridas, macelas
as flores que ainda nem nome têm
- a flor da victória-régia -
a flor de ipê-brasil;
as brancas e lilás do manacá e as de laranjeira (e é desta o mel que te adoça)

e por fim a flor do mais rijo jacarandá que nasceu no pé da serra do mar, que venta as pétalas que te chovem até o pernambuco.

loirinha nº 1 (paixão e benção)

No Brasil, rio centro e sul, só a morena é que é versada (e eu as amo)
trançada letrada desmentida e endeusada
elevada à categoria de patrimônio imaterial da humanidade

Esse é meu dito sobre uma loirinha, a melhor coisinha brasileira:


loirinha pequena dos olhinhos verdesapo;
tudo em ti é o mais lindinho diminutivo
o mais acolchoado sorriso de almofadas
o mais ditoso despenteio;

loirinha, quando o vento te descabela, ele descabela luz
te despenteia em raios de sol, por mais que só chova.
e se talvez eu fosse nosso salvador jesus
meu sacrifício de corpo só seria o da cruz
se o teu corpo, eu o tivesse de salva-guarda
se minha carne, ora toda coagulada,
fosse mutilada para que lhe fosse servida de licor
que como era puro, alvejou tua pele.

e foi a primeira vez que ardeu o Senhor em brasa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

nachtlied/regenlieder

die Hörner Klang
und das Trompeter nehmen den Spieß das Mundstück.

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será que ela dança? a bailarina balleteia sem parar.
o balé se chama bonne humeur/mauvaise humeur e não tem cordas
dois gladiadores
ou espelhos;
só há a atriz, a bailarina
e meu lábio sangra.

(continua)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Nanquim

as paredes da universidade sangram
e tem cheiro daquilo que cheira o que traz os nanquines ao mundo
as paredes de ondas de Matsu são vermelhas das algas
e da face de Guan Yu

marchar
marchar
marchar
pela queda de Nanquim

bravíssimos yanagawa
marchar pela queda de Nanquim
numa estrada de cabeças por blocos
por sobre rejunte de tripas
pela queda de Nanquim
camas de palha pedra feno pau folhas grilos
de chinesas han wu manchu min chu
mas principalmente han
belas han de olhos sinceros e brutos
de peles leitosas e boquinhas de hibisco
grávidas
empaladas
degoladas
han, min, e chu
bravíssimos guerreiros de espadas yanagawa

escrevam isso aqui nos seus panfletos.
eu nutro um sensacional desprazer por tudo que há de mais normal.

eu sou o montesquieu da nova geração de vizinhos de porta em porta no gonzaga e da pta. da praia

só eu digo isso; ouça então atento
na mesma face que te bate o relento
eu te escarro
e aí acho que não há lucro mes'.
só difamação.

sábado, 10 de outubro de 2009

Não me leve a mal

O cabelo louro,
o olho azul celeste,
clichê.

Sou o mordomo, rei dos assassinatos, sempre o culpado.
A união faz a força, ninguém me ama!
Sou previsível e repetitivo.
clichê.

Mas a do cabelo louro,
ah, sua pele.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

res.: bilhete azul

caro sr. prof. dr. ernesto, D.A., Ph.D.

favor encaminhar sua solicitação e reclamações ao RH. sua magnificência o reitor tem mais o que fazer (id est ele está em sua casa de praia em ubatuba).

d. ângela
a secretária

---

c) AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

requererei e reclamarei meus direitos!
defira-se ou declare-se ciente:




sr. prof. dr. ernesto, D.A., Ph.D.

---

e) MARX, Karl;

d. ângela

terça-feira, 6 de outubro de 2009

De mim para mim

O dia rubro suado em que você me inala calada, minha fumaça,
de gosto irritante que grita malandro,
do meu canto da boca que sai borbotando..
esgotou-se minha existência.

mas o narciso não notou que o melado da finda diária não o trazia prazer.
posto demais sensatamente, notou agora.

E noite sobe, desce, deito imolado aos amamentados alados que não me fazem sentido.
sois limitado ou descobriu-se o vazio da razão?

sábado, 3 de outubro de 2009

bilhete azul

venho por meio desta requerer à vsa. mgnificência o sr. dr. reitor etc o meu desligamento desta instituição constituída em sua maior parte de tijolos e pedras até mesmo onde inda poderia a grama brotar no meio dessa horrível s. paulo e de quãos-sábios patetas em geral. listo como motivos:

a) a moça da 2ª(segunda) fileira das terceiras aulas de quinta-feira não sabe brincar, mas resiste em abusar no seu farto decote;

b) a moça do cafézinho da faculdade de letras e filosofia nunca traz o meu mascavo em tempo hábil no período vespertino, antes das ministrações de língua baixo-saxônica/língua juta II;

c) AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

d) foucault;

e) MARX, Karl;

Tendo em vista as supracitadas observações, declaro assim o meu desejo.

Defira-se aqui:






prof. dr. ernesto

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

se eu num rio, se tu num mar, a gente num mangue
a gente num foz
a gente não faz.